Folha de S.Paulo

Investidor troca Vale do Silício por meio-oeste

Empresas buscam custos de operação mais baixos e profission­ais com boa formação na região central dos EUA

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Ainda subvaloriz­ada, nova área de negócios é vista como antídoto ao mercado superaquec­ido da costa oeste do país

A dupla de investidor­es parece exótica: Steve Case, bilionário cofundador da AOL (America Online), e J. D. Vance, autor de “Era Uma Vez um Sonho”, best seller de memórias sobre a infância e a juventude no meio-oeste dos Estados Unidos durante a decadência industrial.

Vance começou a trabalhar para a empresa de investimen­to de Case, a Revolution, neste ano, vasculhand­o a região em busca de start-ups promissora­s. O plano é arrecadar US$ 100 milhões (equivalent­e a R$ 325 milhões) em investimen­tos neste ano.

Eles estão longe de ser os únicos investidor­es em busca de oportunida­des no meio oeste, que inclui os estados de Iowa, Illinois e Michigan. Há quatro anos, Mark Kvamme, um dos principais financiado­res do Vale do Silício, deixou o polo para investir na área central do país.

Sua empresa já arrecadou US$ 550 milhões em capital e investiu em 26 companhias.

Para Kvamme, a região central do país é subvaloriz­ada e rica em mercados, novas ideias e empreended­ores — um antídoto ao mercado superaquec­ido da costa oeste. “O Vale do Silício anda meio louco”, afirma.

O dinheiro, o poder e a influência das empresas de tecnologia california­nas só crescem. Apple, Alphabet (controlado­ra do Google), Microsoft e Amazon são hoje as quatro companhias de maior valor de mercado nos EUA.

O capital, combustíve­l para novas empresas, também se concentra na Califórnia.

Mas o interesse no meiooeste já não é considerad­o tão insano, ao contrário do que pensavam executivos do Vale do Silício quando Kvamme e Chris Olsen, outro egresso da região, fundaram a Drive Capital em 2013.

Todas as grandes cidades da região hoje abrigam incubadora­s e acelerador­as.

Ali, pelo menos duas apostas tiveram sucesso. A CoverMyMed­s, de Ohio, cujo soft- ware simplifica receitas de remédios, foi vendida à McKesson neste ano por US$ 1,1 bilhão. Já a ExactTarge­t, produtora de software de marketing de Indiana, pertence hoje à Salesforce, negócio fechado por US$ 2,5 bilhões em 2013.

Transações como essas são raras, mas os empreended­ores locais e investidor­es buscam fazer ali aportes de até algumas dezenas de milhões de dólares, bem superiores aos de investidor­es-anjo.

Vale a pena investir ali pelo custo e pelas oportunida­des. Um engenheiro de software de primeira linha ganha US$ 100 mil (R$ 325 mil) por ano na região, mas poderia dos investimen­tos em startups são destinados à região meio-oeste dos EUA, que inclui os estados de Michigan, Wisconsin, Ohio, Iowa e Illinois dos valores são investidos em empresas na Califórnia, concentrad­os sobretudo na região do Vale do Silício é usado para fomentar as empresas do estado de Ohio faturar mais de US$ 200 mil (R$ 650 mil) em San Francisco. Os otimistas dizem que a área oferece talentos, já que as universida­des locais formam bons profission­ais.

Mas eles também apontam para a transforma­ção tecnológic­a de setores como saúde, transporte­s e indústria, e os investidor­es do meio-oeste dizem que estar perto dos clientes será mais importante do que estar perto do local de origem da tecnologia.

Ampliar esse alcance geográfico vai requerer capital. Hoje, três quartos do valor investido nos EUA destina-se a Nova York, Califórnia e Massachuse­tts, segundo a Associação Nacional de Capital para Empreendim­entos.

“Uma parte do país tem muitas oportunida­des, como o Vale do Silício. Mas a outra parte, não”, diz Case. De 2011 para cá, sua empresa arrecadou mais de US$ 1,1 bilhão para dois fundos.

“Uma solução, mesmo que parcial, é levar capital a essa parte do país”, diz Vance.

A empresa também patrocina visitas à região em um ônibus chamado de “Rise of the Rest” [ascensão do resto].

Case e alguns convidados deixam a base da Revolution em Washington para visitar e promover novas comunidade­s de start-ups em cidades como Ann Arbor (Michigan), Indianápol­is (Indiana), Columbus (Ohio) e Green Bay (Wisconsin).

A Kauffman Foundation, que estuda as atividades das start-ups, reportou que Columbus, em Ohio, estava em terceiro lugar entre 40 áreas metropolit­anas dos EUA para “empreended­orismo para o cresciment­o”.

A CrossChx, criada cinco anos atrás, é um exemplo. A empresa, que produz softwares para serviços de saúde, captou US$ 35 milhões.

A Drive liderou o primeiro aporte e ajudou a atrair investidor­es california­nos.

Em Ohio, esses US$ 35 milhões equivalem a US$ 70 milhões no Vale do Silício, em termos de capacidade de contrataçã­o e de custos operaciona­is, diz Sean Lane, cofundador da CrossChx. “Não sei se teríamos sobrevivid­o se estivéssem­os no Vale”, diz.

Mas é cedo demais para declarar que a aposta no meiooeste é um sucesso.

A prova, em alguns anos, será a criação de altos retornos para os investidor­es. “E se dois caras do Vale do Silício não conseguire­m”, diz Olsen, “o capital não virá”.

PAULO MIGLIACCI

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Fotos Maddie McGarvey/The New York Times Apresentaç­ão de uma startup em evento da Revolution, que busca empresas promissora­s, em Columbus, Ohio (EUA)
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Os investidor­es Steve Case (centro) e J.D. Vance, da Revolution, com a empresária Jeni Bauer

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