Folha de S.Paulo

Desafios do parque Minhocão

- COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Leão Serva; LEÃO SERVA terça: Vera Iaconelli; quarta: Ilona Szabó de Carvalho; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

FAZIA UM tempo bonito sábado de manhã quando fui correr no parque Minhocão. Tinha menos gente do que nos domingos de sol. A notícia de que o antigo elevado a partir de agora fica aberto aos pedestres durante todo o final de semana ainda não se espalhou.

Sobre a Marechal Deodoro, a linda praça assolada pela obra horrorosa de 1971, havia um grupo de jovens fotógrafos e vários modelos fazendo trabalhos buscando os melhores ângulos. Poucos ciclistas aproveitav­am para correr, diante de poucos frequentad­ores; algumas pessoas passeavam com cachorros; uns poucos se exercitava­m. Tinha um só vendedor de água de coco.

Quando cheguei em frente à sede da Associação Parque Minhocão, o pequeno apartament­o cuja janela dá para a pista, vi que o fundador da entidade, empresário Athos Comolatti, estava lá dentro, com outro militante do projeto do parque, o advogado Wilson Levy, jovem estudioso de direito urbano. do interior, onde quem passa na rua interage com o interior da casa. Os urbanistas, como Jane Jacobs e Jan Gehl, citam essa possibilid­ade como sinal de saúde das metrópoles, em contraposi­ção àqueles lugares em que a rua é só uma rota de passagem de carros e os moradores ficam isolados dentro de casa.

Os defensores do parque acabam de ter uma vitória institucio­nal. Ao sancionar a lei que amplia as horas sem trânsito no elevado, o prefeito da obra (defendida por outros militantes contrários ao Minhocão). Vale lembrar que o Plano Diretor da Cidade prevê o fechamento total do viaduto aos carros em 2029 e até lá um aumento progressiv­o da abertura aos pedestres. Em cerca de 90 dias, o fechamento noturno será antecipado para as 20h (hoje é as 21h).

Tentei conversar com os dois militantes, mas, apesar da curta distância, as linhas de ônibus que passam ali embaixo tivessem sido convertida­s em trólebus. É uma tarefa para o novo prefeito, Bruno Covas: dar sequência às medidas de melhoria da qualidade de vida na região. Há muito para ser feito, não basta decretar um parque intermiten­te e deixar o resto como está.

Além de trocar os ônibus por elétricos, Covas poderia iniciar sua gestão criando uma ligação física do Minhocão com a Praça Roosevelt. Enquanto prefeito, Doria prometeu ligar o parque Augusta à Roosevelt, fazendo da rua Gravataí um calçadão verde. Juntando a Roosevelt ao Minhocão podemos ter um parque linear da Augusta ao Largo Padre de automóveis sobre o viaduto. A prefeitura poderia fechar logo duas de suas quatro pistas e tornar o trânsito unidirecio­nal: de manhã, no sentido Leste-Oeste; de tarde, ao contrário. Com a medida, o volume de carros cairia à metade e duas pistas já poderiam ser ocupadas por jardins. E assim iremos avançando sempre aos poucos, em vez de ter solavancos súbitos de tempos em tempos.

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