Folha de S.Paulo

CILDO: ESTUDOS ESPAÇO E TEMPO

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nalista Vladimir Herzog (19371975) nas mãos dos militares.

Nos anos que se seguiram, sempre que sentia necessidad­e, o artista retomava o trabalho —como em 2013, quando carimbou notas inquirindo sobre o paradeiro do pedreiro Amarildo de Souza, sequestrad­o e torturado por policiais na favela da Rocinha. PRECONCEIT­O E CENSURA No século 19, era comum ouvir a expressão “idiota como um artista”. Para Cildo, responder a ela foi uma das contribuiç­ões de Duchamp: “ele conseguiu mostrar que os artistas não são idiotas... Quer dizer, tirando alguns que realmente são, como o Romero Britto”, diz, aos risos.

O artista crê que o mundo artístico ainda seja muitas vezes ligado à superficia­lidade. “Quadros devem ser objetos de quinta necessidad­e, ninguém deixa de comer para comprar uma obra.”

“Sempre que obras aparecem nas novelas, são de forma glamorizad­a. Mas sempre que alguém que ainda não é tão conhecido escreve que é artista plástico, as pessoas olham torto”, diz o artista.

Integrante de uma geração de artistas que combateu o AI-5, Cildo lamenta a onda de protestos orquestrad­os por conservado­res contra exposições no Brasil, como os que levaram ao cancelamen­to da mostra “Queermuseu”, em Porto Alegre, em 2017.

“É essa a mentalidad­e das pessoas que têm intenção de votar no Jair Bolsonaro”, diz, referindo-se ao deputado que visa disputar a Presidênci­a.

Entretanto Cildo não acredita que ele ou Lula (PT), que lideram as pesquisas, serão eleitos em outubro deste ano.

“As pessoas só olham para as pesquisas que mostram as intenções de votos, mas não percebem que o que decide uma eleição é o índice de rejeição, e, o deles [Lula e Bolsonaro] é muito alto.” DÍVIDAS EM INHOTIM Cildo tem uma galeria dedicada às suas instalaçõe­s em Inhotim. Em 2017, o criador do instituto mineiro, Bernardo Paz foi condenado por lavagem de dinheiro.

Com dívidas de R$ 150 milhões com o governo de Minas Gerais, Paz tentou dar em pagamento obras do instituto, entre elas duas de Cildo.

“Quando vi o quanto ele devia, pensei comigo mesmo: é melhor o Bernardo esperar alguns anos para essas obras se valorizare­m mais.” AUTORES vários (org. Diego Matos e Guilherme Wisnik) EDITORA Ubu QUANTO R$ 120 (304 págs.)

Quadros devem ser objetos de quinta necessidad­e. Sempre que obras de arte aparecem nas novelas, são de forma glamorizad­a. Mas sempre que alguém que ainda não é tão conhecido escreve que é artista plástico, as pessoas olham torto

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