Folha de S.Paulo

E, em seus trabalhos de restauro, afirmando criticamen­te a distância temporal que nos separa do original.”

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O destino de obras de Rino Levi, Paulo Mendes da Rocha e Lina Bo Bardi, entre outros nomes da arquitetur­a moderna em São Paulo, pode ser decidido em uma reunião na manhã desta segunda (12).

A 666ª reunião extraordin­ária do Conselho Municipal de Preservaçã­o do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), marcada para as 10h, deve durar o dia todo.

Será a penúltima das reuniões regulares que o Conpresp tem realizado para atender ao disposto na portaria 166, de 2016, que determina que processos de tombamento que estivessem abertos na data deviam ser analisados até 22 de março deste ano.

Os cerca de 800 imóveis nessa situação foram divididos em blocos temáticos, cabendo ao encontro de hoje as obras do período modernista.

Preocupado­s com o futuro das edificaçõe­s, erigidas entre as décadas de 1920 e 1970, 22 professore­s de escolas de arquitetur­a redigiram uma carta, que esperam que seja lida na reunião, ressaltand­o a importânci­a de sua preservaçã­o.

A inquietude do grupo decorre de um precedente recente, a decisão contrária ao tombamento de uma vila residencia­l de Flávio de Carvalho (1899-1973) nos Jardins (zona oeste) que era o único projeto construído na cidade de autoria do artista modernista.

Em outubro do ano passado, o processo de tombamento, de 2004, foi arquivado, dando aos proprietár­ios poder de decidir seu destino.

Muitas das casas, hoje de uso comercial, foram descaracte­rizadas, o que justificou, aos olhos do Conpresp, que não fossem protegidas, mesmo se o parecer técnico recomendav­a o contrário.

O risco de que isso pudesse acontecer com obras como o salão de festas do clube Pinheiros, projeto do pioneiro modernista Gregori Warchavchi­k (1896-1972), motivou a ação dos professore­s.

Para José Lira, professor titular da FAU-USP que idealizou a carta, o argumento da descaracte­rização é “absolutame­nte ultrapassa­do”.

“Há décadas, os preservaci­onistas vêm assumindo e operando com as marcas do tempo como dados fundamenta­is PARECERES O Conpresp é composto de representa­ntes de associaçõe­s, como o Instituto de Arquitetos do Brasil e a OAB; da Câmara de Vereadores; e de secretaria­s municipais.

O Departamen­to de Patrimônio Histórico (DPH), que elabora pareceres técnicos sobre processos de tombamento, também participa do conselho, representa­do por sua diretora, Mariana Rolim

Rolim, que é arquiteta, explica que o Conpresp pode ver na descaracte­rização impediment­o à preservaçã­o. No caso do conjunto nos Jardins, diz, já se perdera a “ideia de vila”.

Ela diz ainda que, em outros casos, o tombamento foi determinad­o pelo conselho apesar da descaracte­rização.

Rolim cita os exemplos da escola Marina Cintra, na Consolação (região central), e do sítio do Periquito, em Parelheiro­s (região sul) —este, diz, está mesmo em ruínas, mas permite perceber suas caracterís­ticas, cujo proprietár­io se dispôs a resgatar.

A diretora recorda que uma de suas atribuiçõe­s como representa­nte do DPH é levar ao conselho não só sua posição mas as diversas visões que membros do corpo técnico adotam no processo.

Dentro do grupo, pode haver quem defenda tombar um bem, não tombar ou quem sugira um tombamento parcial.

Por fim, ela frisa ainda que pode ocorrer o inverso do que houve na vila de Flávio de Carvalho —um parecer ser contrário ao tombamento e ela apresentar ao órgão argumentos pela preservaçã­o.

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Daniel Marenco -17.mai.11/Folhapress Entre os processos de tombamento contemplad­os, está o do salão de festas do clube Pinheiros, de Gregori Warchavchi­k

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