Enfrentou dois anos de tortura dos militares
A vida de Heinrich Plagge esbarra na história. Foi para a Alemanha recém-nascido, meses antes da Segunda Guerra. Viveu sob o nazismo durante o conflito. Voltou ao Brasil e casou-se no ano do golpe de 1964. O pior ainda viria.
Fluente em alemão, Heinrich conseguiu emprego na Volkswagen, no ABC paulista, onde cresceu rápido.
Na época conheceu Neide, então estudante de história na PUC e com uma visão política oposta à sua. Aos poucos, Heinrich desconstruiu o ideário nazista em que acreditava.
Decidiu entrar para o Partido Comunista, onde era “Conrado”. Após o golpe, usou sua posição na fábrica —ele não passava por revistas— para distribuir material do Partidão.
Ao descobrir que Conrado era procurado, combina com Neide, já sua mulher e mãe de três filhos: caso ele não aparecesse, tinha sido preso.
Dito e feito. “Naquela noite comecei a ser torturado. À base de paulada. Máquina de choque. Pancada mesmo. 7º DIA 1º ANO Chute”, disse, em entrevista recente à Istoé Dinheiro.
Os cerca de dois anos que passou nessas condições deixaram a surdez graças aos “telefones”. Joelhos nunca mais foram os mesmos. Gritos durante o sono. Desenvolveu mal de Parkinson. Nunca mais foi aceito em emprego formal.
Apesar disso, mantinha o bom humor e a perseverança.
Morreu no dia 6, aos 79. Deixa a mulher, Neide, os filhos Hans (em memória), Paul, Valéria e Vanessa e cinco netos.
Em depoimento ao MPF, em agosto, teve o último momento de plena lucidez. Detalhou tudo. “Foi uma catarse”, diz Valéria. Em dezembro, a Volkswagen admitiu ter colaborado com o governo militar. coluna.obituario@grupofolha.com.br