Folha de S.Paulo

‘Os Farofeiros’ acerta em transição das comédias da bonança para o país da crise

- ANDREA ORMOND

FOLHA

O público brasileiro já se acostumou aos filmes de Roberto Santucci. Foi ele quem dirigiu algumas das maiores bilheteria­s nacionais dos últimos anos, como “De Pernas Pro Ar” (1 e 2) e “Até Que a Sorte nos Separe” (1, 2 e 3).

É por isso que “Os Farofeiros” chega para ser o recordista do verão. O janota Alexandre mete-se em uma encrenca e vai passar o réveillon com colegas da firma – mais pobres do que ele. A esposa histérica e os filhos vão no pacote. Acabam se hospedando em uma casa caindo aos pedaços.

Era para ser a repetição de tudo o que vimos antes. Ou seja, mais uma “moneychanc­hada”: universo no qual Santucci tornou-se especialis­ta e que teve rebentos, como “Tô Ryca!” (2016), de Pedro Antônio.

Nas “moneychanc­hadas” o culto ao dinheiro substitui o culto ao sexo. Em vez de nos apaixonarm­os por ícones como David Cardoso ou Helena Ramos, amamos a ascensão social.

No entanto, leitores, surgem novidades. “Os Farofeiros” faz uma transição. Os filmes anteriores de Santucci falavam do Brasil forte economicam­ente, repleto de promessas.

“Os Farofeiros” é do país da ressaca, o país da crise. Os colegas de repartição estão ameaçados de perder o emprego.

Existe, ainda, uma diferença desconcert­ante entre a família de Alexandre e as dos demais. Alexandre incorpora a classe média, no eterno céu e inferno das escolhas. Viajar para um resort em Búzios ou para onde couber o orçamento?

Enquanto isso, os mais pobres adaptam-se às circunstân­cias. Búzios fica em outra galáxia, aceitemos o casebre tosco. Esse embate é o coração da história.

O roteiro de Odete Carmico e Paulo Cursino, apesar de afiado, leva a uma visão muito idealizada da sociedade carioca em que os personagen­s estão inseridos: a de que, acima de qualquer diferença de classes ou de posições, existirá sempre um denominado­r comum possível entre todos.

Cria-se uma “brodagem” para adocicar as diferenças. Alexandre canta no pagode, as mulheres ricas ou pobres estranham-se para depois rirem juntas e de si mesmas. Já passou a hora de o cinema esquecer os mitos antigos da cordialida­de brasileira, escancaran­do, através do humor, o país complexo e partido em que vivemos.

Citações a “Minha Mãe É Uma Peça” e deboches a granel —vide a sequência do monstro na piscina verde— agradam bastante e deixam um bom panorama. Conseguem provar que, sim, o cinema ainda pode ser a maior diversão. DIREÇÃO Roberto Santucci ELENCO Maurício Manfrini, Cacau Protásio, Danielle Winits PRODUÇÃO Brasil, 2018; 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom

O Metropolit­an Opera de Nova York demitiu nesta segunda (12) o famoso regente James Levine, após uma investigaç­ão de mais de três meses tê-lo atrelado a casos de assédio e abuso sexual.

Levine atuava como diretor musical emérito e diretor artístico do programa da instituiçã­o para jovens, mas estava afastado do cargo desde dezembro, após reportagem do New York Times trazer à tona denúncias sobre ele.

À publicação, quatro homens afirmaram terem sofrido abusos de Levine décadas atrás, quando eram adolescent­es ou estudantes.

“A apuração encontrou evidências credíveis de que Sr. Levine se envolveu em conduta sexualment­e abusiva e assediante antes e durante o período em que ele trabalhou no Met”, disse a companhia.

Segundo a instituiçã­o, a apuração considerou depoimento de mais de 70 entrevista­dos e revelou que parte dos casos de abuso e assédio se deram contra artistas vulnerávei­s em estágios iniciais de suas carreiras. A defesa dele não comentou as acusações.

Ele era considerad­o o maior maestro americano desde Leonard Bernstein (1918-90). Ele atuou por mais de quatro décadas no Metropolit­an Opera, a maior organizaçã­o de artes cênicas dos EUA.

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