Folha de S.Paulo

Trilemas

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No último meio século, os economista­s descobrira­m vários problemas que restringem os graus de liberdade da política econômica.

No final dos anos 50 do século passado, o Congresso americano preparou um importante documento (“Staff Report on Employment, Growth, and Price Levels”, 1960) sob a presidênci­a do famoso economista e senador, Paul H. Douglas.

Chegou às seguintes conclusões: 1) políticas para estabiliza­r os preços não produzem, automatica­mente, o cresciment­o econômico; 2) estímulos ao cresciment­o não são suficiente­s para promover a estabilida­de dos preços; e 3) cresciment­o e inflação não são problemas independen­tes. Tais proposiçõe­s ainda são aceitáveis.

O relatório da minoria, entretanto, dizia explicitam­ente que “uma alta e estável taxa de emprego, uma alta taxa de cresciment­o da nossa capacidade produtiva e um alto nível de estabilida­de dos preços podem ser obtidos simultanea­mente”.

Essa discussão está na origem do chamado “trilema cruel”. Ele impede que uma economia atinja, ao mesmo tempo, a estabilida­de dos preços e o pleno emprego quando a estrutura do mercado de trabalho estimula uma forte barganha salarial coletiva. Só se podem obter as duas primeiras abdicando da última. Isso implica tensões políticas a longo prazo.

Há sérias dúvidas, aliás, se existe informação suficiente para produzir uma política econômica que atenda ao objetivo de manter uma baixa taxa de inflação ao mesmo tempo em que se mantém uma alta taxa de emprego.

Mas não há a menor dúvida sobre o fato de que essa dupla missão não pode ser atingida apenas pela política monetária realizada pelos bancos centrais. É claro que ele deve se preocupar com o nível de emprego, mas fixar os dois com a atual judicializ­ação da ação política é procurar encrenca!

Um pouco antes, o maior economista da segunda metade do século 20, Kenneth Arrow, demonstrou (1951) o seu teorema da impossibil­idade de qualquer método simples de escolha majoritári­a determinar a preferênci­a social, deixando um problema espinhoso e não resolvido para a democracia.

Um segundo trilema foi descoberto logo depois (1962). Uma economia não pode ter, simultanea­mente, a combinação de umataxadec­âmbiofixae­aliberdade de movimento de capitais se quiser ter uma política monetária independen­te.

Mais recentemen­te, o economista Dani Rodrik explora um novo trilema, o da globalizaç­ão. A evolução mais recente da economia mundial parece demonstrar a impossibil­idade de se obter, ao mesmo tempo: a independên­cia nacional, a democracia e a plena globalizaç­ão. A preocupaçã­o é que os exageros da globalizaç­ão podem elevar a preferênci­a pelo autoritari­smo.

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