Folha de S.Paulo

São só perguntas

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RIO DE JANEIRO - Há dias, 300 militantes do MST (movimento dos sem-terra) desceram de ônibus fretados e invadiram o parque gráfico de O Globo na avenida Brasil. Seguiram-se pichações, depredaçõe­s, o estripamen­to de poltronas indefesas e outras façanhas típicas. Os próprios militantes gravaram a ação e a divulgaram em suas redes sociais, embora não ficasse claro o que um movimento agrário, campestre e pastoril, como o MST, pudesse querer com algo tão urbano como uma gráfica, e numa das autoestrad­as mais congestion­adas do país.

Em certo momento, os militantes começaram a sua grande especialid­ade: a queima de pneus. Esta é, há algum tempo, uma atração fixa de certas manifestaç­ões, dentro e fora das cidades. Os pneus surgem magicament­e. Despeja-se gasolina, riscamse fósforos e a borracha começa a arder. Os colossais rolos de fumaça interrompe­m o trânsito, entram pelas janelas da vizinhança, asfixiam as- máticos e crianças e atraem a imediata antipatia de milhares de pessoas para a causa do protesto. Bem, isso é com eles. O que me intriga é: quem leva os pneus para a manifestaç­ão?

Com quase um metro de altura e 60 quilos de peso, pneus são incômodos e difíceis de manusear. É verdade que foram feitos para rolar, mas descê-los das pilhas que costumam habitar e trazê-los ao chão exige força consideráv­el. E quem os tira do chão e joga nas caçambas ou nos porta-malas? Como essa atividade não me parece ao alcance de leitores de Marx e Gramsci, imagino que cada grupo de protesto contrate gente de fora, independen­temente da cor política e apenas com força suficiente para a tarefa.

E de onde saem os pneus? Os organizado­res dos protestos terão uma verba especial para adquiri-los em borrachari­as, em troca de nota fiscal, ou eles são simplesmen­te expropriad­os em nome do povo?

São só perguntas. ANTONIO DELFIM NETTO ideias.consult@uol.com.br

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