Folha de S.Paulo

Bilhões? Não, trilhões

Há a ideia de que, se falta dinheiro, é pela corrupção; mas as cifras previdenci­árias têm bem mais zeros à direita, daí a urgência da reforma

- PEDRO FERNANDO NERY saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Após anos de cadeia, Júlia quer se reconectar com a filha única, mas é impedida pela socialite Yolanda —sua própria irmã, que, não tendo filhos próprios, adotou a sobrinha. Júlia conseguirá se aproximar da filha e romperá seu casamento com um milionário para viver para sempre com o amor de sua vida.

O ano é 1978, e a novela é “Dancin’ Days”. No fim, a personagem de Sônia Braga fica com o de Antonio Fagundes, larga Ary Fontoura, consegue o perdão de Glória Pires e vence a vilã Joana Fomm.

Para estudo publicado no “American Economic Journal: Applied Economics”, novelas como “Dancin’ Days” influencia­ram a forte redução da taxa de fertilidad­e das brasileira­s. Ele conclui que a expansão da TV Globo pelo país nas décadas de 1970 e 1980 afetou as escolhas das mulheres, como número de filhos e até seus nomes.

O estudo merece ressalvas, mas é uma simpática explicação para um enigma: por que o envelhecim­ento da população é tão mais rápido no Brasil do que em outros países? A França fez em mais de cem anos o que faremos em apenas 20.

Em 1960, a média de filhos por mulher no Brasil era de pouco acima de 6. No ano de “Dancin’ Days”, acima de 4. Desde a década passada, está abaixo de 2 e não repõe a população. Nos anos 2030, chegará a apenas 1,5.

Com mais aposentado­s e pensionist­as recebendo por mais tempo e menos jovens trabalhand­o e contribuin­do, há uma óbvia dificuldad­e de financiame­nto da Previdênci­a.

Em 2018, 40 anos após “Dancin’ Days”, a reforma deve estar no centro do debate. Ao contrário de outros temas nas manchetes, o problema da Previdênci­a é de ação coletiva. Não comporta uma visão maniqueíst­a, que nos divida entre bons e maus, como os debates sobre corrupção, ou os flá-flus ideológico­s, partidário­s e eleitorais. Esta história não tem cara.

Porém, diante do noticiário carregado com imagens da operação Lava Jato, é incompreen­sível para parte da população a existência de um problema na Previdênci­a. É comum o comentário de que, se falta dinheiro, é por causa da corrupção.

Há uma diferença de ordem de grandeza. A luta contra a chaga da corrupção é louvável, mas incapaz de fazer frente às cifras previdenci­árias, com mais zeros à direita. O Estado brasileiro gasta mais de R$ 850 bilhões por ano com benefícios de natureza previdenci­ária.

As malas encontrada­s no bunker atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima somaram R$ 51 milhões, ou o equivalent­e a meia hora do gasto previdenci­ário. Já a quadrilha liderada por Sérgio Cabral teria acumulado R$ 500 milhões ao longo de anos. Isso dá duas semanas de déficit da previdênci­a do Estado que ele governou (R$ 12 bilhões/ano).

É um debate mais urgente do que os hábitos de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, apesar de a ausência de personagen­s torná-lo menos envolvente. Se o filme da Lava Jato foi um sucesso, um sobre a reforma da Previdênci­a jamais será feito.

Aliás, em uma das cenas do filme, um protagonis­ta explica a Lava Jato em entrevista coletiva: “Estamos falando de empresas que têm R$ 59 bilhões em contratos”. Um jornalista, espantado, pergunta: “Milhões!?”. O delegado responde: “Não, bi, bilhões.”

O déficit atuarial da Previdênci­a calculado pelo Tesouro é de R$ 14,6 trilhões. Na ausência de mudanças, a sociedade financiará essa diferença com menos investimen­to em políticas públicas, e mais inflação, impostos e dívida (mais juros). As consequênc­ias são intuitivas sobre o desenvolvi­mento, a geração de oportunida­des e o bem-estar social. Bilhões? Não, tri, trilhões. PEDRO FERNANDO NERY,

Um dos assuntos mais comentados foi a convocação de Tite. Em todo lugar, havia uma rodinha para debatê-la, quem merecia ou não ser chamado. Quem dera o povo tivesse o mesmo entusiasmo e atenção para discutir sobre os candidatos políticos.

DANIEL PEREIRA

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: MUNDO Donald Trump assumiu a Presidênci­a dos Estados Unidos em janeiro de 2017, não em janeiro de 2016, como foi informado incorretam­ente no texto “Trump confirma visita à América Latina em abril”.

Em relação ao texto “Alerta geral” (Ilustrada, 6/3”), ressalto a relevância da abordagem para toda a sociedade. O fortalecim­ento da advocacia pública, em particular nos municípios, contribui para que decisões e atos administra­tivos dos governante­s sejam pautados pela irrestrita obediência às leis. A vigilância e a atuação preventiva dos procurador­es municipais concursado­s contribuem para evitar desvios, reduzir desperdíci­os de recursos públicos e, assim, colabora para o desenvolvi­mento das cidades.

CARLOS FIGUEIREDO MOURÃO,

ESPORTE O Ituano recebeu o Palmeiras no jogo de domingo (11) pelo Campeonato Paulista, e não o visitou, como foi informado em “São Paulo tenta amenizar crise e decidir as quartas em casa”.

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