Folha de S.Paulo

Givenchy, o mago dos ricos chiques

- ELIO GASPARI

MORREU O costureiro Hubert de Givenchy. Não fará falta, porque seu mundo acabou há décadas. Será eternament­e lembrado, sempre que uma mulher vestir um “pretinho” parecido com o de Audrey Hepburn no filme “Bonequinha de Luxo”.

Quando ela entrou no ateliê, Givenchy decepciono­u-se com aquela moça de roupas banais. Ele achava que sua nova cliente Hepburn seria a já famosa Katharine. Daquele encontro resultou uma amizade de 40 anos marcada pelo seu estilo, classe e elegância.

Em 1992 Audrey estava ligada a aparelhos, morrendo de câncer nos Estados Unidos, queria passar o Natal na sua casa da Suíça. Não podia viajar num voo comercial pois seu estado exigia um controle especial da pressuriza­ção durante o pouso. Givenchy ligou para uma de suas clientes, Bunny Mellon, e pediu-lhe o jatinho. Audrey Hepburn viajou num avião decorado com flores brancas e morreu em casa semanas depois. acabado em 1968, quando o genial Cristóbal Balenciaga fechou sua casa de Paris, horrorizad­o com o que acontecia na rua. Acabou-se o tempo de estrelas que tinham horror a holofotes (Audrey Hepburn) e bilionária­s capazes de ensinar que “nada deve ser notado”, como Bunny Mellon. Num só ano a senhora gastou na Maison Givenchy o equivalent­e a US$ 700 mil em dinheiro de hoje, mas passava despercebi­da.

Hoje não existem grandes costureiro­s. com as duas mãos. Givenchy comandou a confecção do casaco de luto da duquesa de Windsor para o enterro do marido em um dia. Dizia que o cabelo de Ivana, a primeira mulher de Donald Trump, parecia um repolho, e jamais vestiria a cantora Madonna, pois não desenhava “fantasias”.

No Met Gala de 2016 Madonna apareceu com uma fantasia da etiqueta Givenchy que lhe expunha o traseiro. Ele nada tinha a ver com isso. No mundo em que não há mais fabricante de malas), Moët (champanhe) e Hennessy (conhaque). Seu poderoso executivo é Bernard Arnault, um engenheiro que jamais desenhou uma saia ou apreciou um vinhedo. Ele é o imperador de um novo luxo, popular, comandado pelos grandes varejistas. Os vestidos que eram costurados em Paris hoje são feitos na China. O grupo LVMH tem dezenas de grifes, entre elas Dior, Kenzo e Pucci, ou as dos relógios Bulgari, Hublot ou TAG Heuer.

De certa maneira o luxo popularizo­u-se. Aquilo que um dia foi a clientela dos grandes costureiro­s cabe hoje no cadastro de uma só rede de revendedor­es. No final de sua carreira, Givenchy acompanhou a ousadia de Madame Chanel e lançou que o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, usava colônia “Monsieur de Givenchy”.

Hubert de Givenchy foi tudo isso, era marquês e também um homem bonito, com 1,96 m e “nariz de rico”, expressão criada por Danuza Leão para a estampa de Christine Lagarde, a diretora do FMI. Quem duvida que haja relação entre nariz e riqueza, olhe para o bilionário Jorge Paulo Lemann.

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