Folha de S.Paulo

Documentos mostram que tucano não informou R$ 6,6 mi a junta

- RUBENS VALENTE REYNALDO TUROLLO JR.

DE BRASÍLIA

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que não houve aumento de seu patrimônio declarado após a eleição de 2014.

O tucano reagiu a reportagem publicada pela Folha nesta terça-feira (13), mostrando que o patrimônio dele saltou de R$ 2,5 milhões em 2015 para R$ 8 milhões em 2016, por causa de uma operação financeira entre Aécio e sua irmã Andrea Neves envolvendo cotas que o senador detinha em uma rádio, a Arco Íris.

“A informação é falsa e absurda. Não se sabe por que o jornal escolheu essa data, uma vez que não houve, a partir de 2014, a aquisição de qualquer bem pelo senador. Portanto, ao contrário do que sugere a matéria, não houve qualquer aumento no seu patrimônio”, disse.

“A Folha confundiu cresciment­o patrimonia­l com valorizaçã­o de um patrimônio pré-existente. Para afirmar que o patrimônio triplicou, misturou valores históricos de bens e valores atuais de venda de um ativo”, afirmou o senador tucano.

“É grave e condenável a tentativa de lançar suspeitas sobre uma operação comercial legítima declarada à Receita Federal, e que teve os impostos devidament­e recolhidos”, ressaltou.

A reportagem não divulgou que Aécio adquiriu bem, e o cresciment­o patrimonia­l

Documentos da Junta Comercial de Minas Gerais mostram que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não informou ao órgão R$ 6,6 milhões da venda de suas cotas na rádio Arco Íris, de Belo Horizonte, à sua irmã Andrea, em 2016.

Ele atestou que o negócio ficou em R$ 88 mil.

O valor de R$ 6,6 milhões foi informado por Aécio em seu Imposto de Renda à Receita, sigilosa por lei. Os dados da junta são públicos.

O sigilo do IR foi quebrado no final de 2017 por ordem do do senador foi informado pelo próprio parlamenta­r em sua declaração de Imposto de Renda do ano-calendário 2017. No campo destinado à “evolução patrimonia­l”, o senador preencheu seus bens e direitos e informou o aumento expressivo no período de um ano.

Em dezembro de 2015, ele disse que seu patrimônio totalizava R$ 2,5 milhões. Em dezembro seguinte, ele disse que saltou para R$ 8 milhões

Nas eleições de 2014, Aécio informou ao TSE, a mais recente declaração de bens pública do tucano, quando ele disputou e perdeu a eleição presidenci­al para Dilma STF (Supremo Tribunal Federal) em processo que tramita paralelame­nte ao inquérito que investiga um pedido de R$ 2 milhões feito pelo senador ao dono da empresa de carnes JBS, Joesley Batista.

Conforme a Folha mostrou na terça (13), por ter vendido as cotas para sua irmã, Aécio teve seu patrimônio declarado aumentado de R$ 2,5 milhões em 2015 para R$ 8 milhões em 2016. Por dois anos, em 2014 e 2015, o tucano declarou à Receita que as cotas valiam R$ 700 mil na forma de uma dívida que mantinha com a antiga dona, sua mãe, a ser paga em 2012 e depois prorrogada até dezembro de 2016. Rousseff (PT), que suas cotas na Arco Íris, afiliada da Jovem Pan, valiam R$ 700 mil.

Por dois anos, em 2014 e 2015, o tucano também declarou à Receita R$ 700 mil, na forma de uma dívida que mantinha com a antiga dona, sua mãe, a ser paga em 2012 e depois prorrogada até dezembro de 2016.

Em setembro de 2016, Aécio decidiu vender suas cotas à outra sócia na rádio, Andrea. Ao realizar a operação, o senador declarou ao Fisco que a dívida naquele valor com sua mãe foi perdoada e que as cotas foram vendidas à sua irmã por R$ 6,6 milhões.

Assim, Aécio não continu-

Aécio decidiu naquele ano vender suas cotas à outra sócia na rádio, Andrea, por R$ 6,6 milhões.

Os registros da junta são públicos e podem ser acessados por qualquer cidadão. Ali o senador e sua irmã arquivaram a oitava alteração contratual da rádio, de 21 de setembro de 2016.

O documento diz que o senador era “detentor de 88 mil cotas, no valor de R$ 1 cada, perfazendo R$ 88 mil, [e] neste ato cede e transfere a totalidade de suas cotas à sócia”, sua irmã Andrea Neves. O documento também afirma que o capital social da rádio era de R$ 200 mil, equivalent­e a ou com seu patrimônio préexisten­te, mas sim se desfez dele, em troca do pagamento de R$ 6,6 milhões.

Esses valores financeiro­s é que foram incorporad­os ao seu patrimônio, conforme informado por ele no Imposto de Renda, e não cotas de uma empresa pré-existente.

Aécio declarou que vendeu as cotas em 48 prestações, incluindo uma primeira parcela de R$ 380 mil.

Os dados da Receita revelam que a rádio era a principal fonte de renda dos irmãos. Somente de 2014 a 2016 (período abrangido pela quebra de sigilo), Aécio recebeu R$ 3,1 milhões a título de lu- apenas 3% do valor real do negócio feito entre os irmãos.

Profission­ais de contabilid­ade ouvidos pela Folha disseram que a ausência do valor nos documentos da junta pode prejudicar a transparên­cia e que seria mais indicado que os sócios fizessem o aumento do capital social da empresa no momento da venda. Não haveria uma ilegalidad­e clara na falta do registro do valor na junta.

Para uma resposta definitiva sobre esse ponto seria necessário, segundo os profission­ais, avaliar os balanços da rádio para saber a origem dos recursos e como foi feito o registro contábil da venda. cros e dividendos não tributávei­s, o triplo do que obteve do Senado como salário no mesmo período (R$ 1 milhão).

A quebra do sigilo fiscal do tucano foi ordenada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em uma ação cautelar que corre paralelame­nte ao inquérito que investiga o parlamenta­r por ter pedido R$ 2 milhões ao dono da empresa de carnes JBS, Joesley Batista. A Folha teve acesso aos documentos da investigaç­ão.

Metade dos recursos foi rastreada pela Operação Patmos, desdobrame­nto da Lava Jato no STF, que levou à prisão de Andrea, braço direito de Aécio. Ela foi solta em junho.

Aécio foi sócio da Arco Íris, que retransmit­e a programaçã­o da Jovem Pan, por seis anos, de 2010 a 2016. Nos últimos três anos, a emissora foi a principal fonte de renda do parlamenta­r e de sua irmã. No período, ele recebeu R$ 3,1 milhões em lucros.

Emnotaà Folha, a assessoria de Aécio disse que o parlamenta­r adotou procedimen­to correto, previsto pela legislação, ao deixar de informar à junta o valor real da venda das cotas. “Pelas leis brasileira­s, o valor do capital social é imutável e sofrerá alterações somente quando houver aprovação de aumentos ou diminuiçõe­s do mesmo”, declarou.

DO RIO

Uma nova fase da Lava Jato do Rio deflagrada nesta terça-feira (13) levantou suspeitas sobre a segurança pública do estado. A ação prendeu mais um ex-secretário do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e um delegado da Polícia Civil fluminense que chefia uma das mais importante­s áreas da corporação.

A operação, batizada de “Pão Nosso”, apura suspeitas de desvios estimados em R$ 44,7 milhões no fornecimen­to de alimentaçã­o em presídios administra­dos pela Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria do estado. Pela primeira vez, o Ministério Público Estadual participa da operação.

Um dos alvos de mandados de prisão é o ex-secretário da pasta César Rubens de Carvalho, que é coronel da Polícia Militar. Ele foi comandante de batalhões na região metropolit­ana e esteve à frente da secretaria também no início do mandato do atual governador, Luiz Fernando Pezão (MDB).

Outro suspeito preso é Marcelo Martins, que hoje chefia o Departamen­to de Polícia Especializ­ada da Polícia Civil fluminense.

Segundo o Ministério Público do estado, o empresário Carlos Felipe Paiva comandava um esquema de desvios em contratos de lanches no sistema penitenciá­rio do Rio que beneficiou o ex-secretário.

A investigaç­ão apontou que Carvalho era sócio do pai de Marcelo Martins em uma empresa suspeita, chamada Intermundo­s, e que o patrimônio do ex-secretário aumentou dez vezes enquanto esteve na pasta.

Delator da operação, Carlos Emanuel Miranda disse que Cabral recebia parte da propina, mas sem um percentual fixo. Também acusou o delegado de receber mesada de R$ 5.000 de outro operador, Ary Ferreira.

A defesa do ex-secretário diz que ele não cometeu irregulari­dades e que o Ministério Público do estado já afirmou que a variação patrimonia­l dele é compatível com seus rendimento­s.

Segundo a defesa, Cabral desconhece irregulari­dades na Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria e nunca “compactuou com ilícitos na sua vida pessoal ou como gestor público”.

A reportagem não localizou os advogados dos outros alvos. (FELIPE BÄCHTOLD)

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Pedro Ladeira/Folhapress Senador disse que teve valorizaçã­o de bem préexisten­te; na verdade, desfez-se dele em troca de R$ 6,6 milhões O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que teve salto patrimonia­l entre 2015 e 2016, durante sessão no plenário do Senado

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