ANÁLISE Nomeação traz temor de ênfase em agenda negativa
O presidente dos EUA, Donald Trump, demitiu nesta terça (13) o secretário de Estado, Rex Tillerson, e o substituiu pelo diretor da CIA, Mike Pompeo —cuja nomeação ainda precisa passar pelo crivo do Senado. A decisão foi anunciada pelo republicano em uma rede social.
Trump pediu na sexta (9) que Tillerson deixasse o posto; o secretário, que estava em viagem à África, voltou mais cedo a Washington.
Em pronunciamento à imprensa na terça, Tillerson disse que ficará no cargo até o próximo dia 31; depois disso, retornará ao setor privado.
A troca de guarda acontece no momento em que o governo Trump ensaia um encontro com a Coreia do Norte para discutir o possível fim do programa nuclear da ditadura de Pyongyang e impõe tarifas sobre importações de aço e alumínio.
A distância entre o mandatário e seu subordinado, que já era conhecida (“formas diferentes de pensar”, na fórmula usada pelo chefe na terça), ficou ainda mais evidente quando, no último dia 8, Trump aceitou o convite para se reunir com Kim Jong-un sem consultar Tillerson.
Com a ida de Pompeo para o Departamento de Estado, é esperado que Gina Haspel o substitua no comando da CIA —seria a primeira mulher a comandar a agência.
Trata-se de uma “oficial clandestina” (espiã) veterana da CIA apoiada por muitos na comunidade de inteligência, mas vista com reservas em círculos do Congresso pelo envolvimento com os chamados “black sites” (prisões secretas pelo mundo). Métodos de tortura como simulação de afogamento e privação de sono eram usados nesses locais para interrogar suspeitos.
A indicação de Pompeo para a chefia da diplomacia também foi recebida de maneira heterogênea nos corredores do Legislativo. Enquanto alguns avaliaram que o novo titular adotaria posição mais rígida do que a de Tillerson em relação à Rússia, outros temiam pela sobrevida do acordo nuclear do Irã. VENEZUELA Em fevereiro deste ano, o nº 1 da diplomacia fez uma viagem pela América Latina, onde visitou Colômbia, Argentina e Peru, mas não o Brasil. Logo antes do tour, causou polêmica ao sugerir de forma velada um golpe militar na Venezuela.
Ele afirmou que, embora os Estados Unidos não estivessem estimulando uma “mudança de regime” no país, o “mais fácil” seria se o ditador Nicolás Maduro deixasse o poder.
“Na história da Venezuela e dos países sul-americanos, às vezes os militares são o agente da mudança quando as coisas estão tão ruins e a liderança não serve ao povo”, disse, em conferência na Universidade do Texas em Austin, aludindo aos golpes de Estado que ocorreram na região na segunda metade do século 20.
Mas ponderou: “Se esse é o caso aqui, eu não sei”.
A troca de comando no Departamento de Estado não é encarada com muita preocupação pelo governo brasileiro, porque existe a percepção de que o órgão continuará a ter pouco poder no governo Trump, ainda que o novo secretário seja mais próximo do presidente americano.
O fato de o novo secretário de Estado, Mike Pompeo, ser um “falcão”, mais agressivo em questões de defesa e segurança, desperta o temor de que a pauta americana para a América Latina seja dominada pela agenda negativa de tráfico de drogas, imigração ilegal e crime transnacional.
Mas, ao mesmo tempo, integrantes do governo brasileiro apontam que o Departa- mento de Estado sob Rex Tillerson estava tão esvaziado que o fato de Pompeo ser mais respeitado por Trump ao menos dará um pouco mais de força ao órgão supostamente encarregado de conduzir a política externa.
No âmbito multilateral, o novo secretário diverge da maioria dos pontos defendidos pela diplomacia brasileira e por Tillerson.
O ex-diretor da CIA é um cético em relação ao aquecimento global, enquanto Tillerson defendia a permanência dos EUA no Acordo do Clima de Paris. Pompeo quer sanções mais duras contra o Irã, ao passo que o em breve ex-secretário advogava pela manutenção do acordo nuclear com Teerã.
O novo secretário pode aumentar o alcance de sanções contra a Venezuela. O medo é Pompeo reforçar uma visão americana ainda mais condescendente em relação à região, de que a América Latina é o quintal dos EUA e deve se alinhar automaticamente com o vizinho do norte nos temas de defesa e segurança.
Os EUA continuarão encarando o governo do presidente Michel Temer como transitório e evitando contatos mais estreitos. Donald Trump irá a Lima em abril para a Cúpula das Américas e, de lá, seguirá para a Colômbia.
O vice Mike Pence e Tillerson estiveram na região, com escalas em Colômbia, Argentina, Peru e México, e também evitaram o Brasil.
O tema de maior interesse do Brasil no momento, as tarifas que os EUA vão impor sobre o aço e o alumínio, não está sob a jurisdição do Departamento de Estado —fica sob o guarda-chuva da Casa Branca, do Escritório do Representante de Comércio e do Departamento de Comércio.