Folha de S.Paulo

Eleição na Rússia é injusta, mas vou lutar até o final

CANDIDATA MAIS MIDIÁTICA DA OPOSIÇÃO, JORNALISTA REJEITA A ACUSAÇÃO DE QUE É ‘LARANJA’ DO KREMLIN PARA LEGITIMAR PLEITO

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DO ENVIADO A MOSCOU

Candidata mais midiática do campo de oposição a Vladimir Putin, a jornalista e socialite Ksenia Sobchak classifica a eleição presidenci­al de domingo como sendo “de mentira”, mas diz que “vai lutar até o último minuto”.

Em entrevista exclusiva à Folha, ela renega a acusação de que é um joguete do Kremlin para dar verniz democrátic­o a um pleito destinado a eleger Putin.

A insinuação surge de suas origens. Ksenia, 36, é filha de Anatoli Sobchak. Quando era prefeito de São Petersburg­o, em 1991, foi ele quem trouxe o então tenente-coronel da KGB Putin à política.

Sobchak morreu em 2000 de um ataque cardíaco que muitos creditaram a um envenename­nto nunca provado, pouco antes do protegido ser eleito pela primeira vez.

Dona de uma carreira de celebridad­e, Ksenia ganhou fama em 2004 ao pilotar o Casa-2, versão russa do Big Brother. Estrelou diversos editoriais de moda e foi capa da Playboy local em 2006.

Em 2012, deixou a rede estatal em que trabalhava. Comanda desde então um “talkshow” na rede oposicioni­sta Dojd e, em 2013, casou-se e hoje é mãe de Platon, 1.

Sobre os anos agitados, diz que ficaram no passado. Sua imagem pública, contudo, segue glamourosa. Suas contas em redes sociais são recheadas de selfies e seu figurino a aproxima do estereótip­o da russa rica e cosmopolit­a.

Ela se registrou em outubro como candidata independen­te e, no fim de 2017, entrou na Iniciativa Civil, partido do ex-ministro Andrei Netchaev. Após tentar associarse ao oposicioni­sta Alexei Navalni, impedido de concorrer, passou a criticá-lo.

Por todo o barulho que Ksenia causa, em especial no Ocidente sempre atrás de sinais de oposição a Putin, ela é nanica. Tem entre 0,5% e 1% em pesquisas, e grande rejeição —fato que poderia ser atribuído à misoginia da sociedade russa. Única candidata mulher em 2018, ela no entanto evitou falar disso na entrevista por e-mail. (IG) Folha – Seu mote de campanha, “Contra todos”, foi criticado até por Putin por não expressar uma plataforma. Qual é o motivo de sua postulação? Se eleita, quais seriam as diretrizes de seu governo?

Ksenia Sobchak – Essa eleição foi injusta desde o princípio. Mas eu prefiro participar dela para representa­r todas as pessoas que são contra o sistema e contra Putin. A voz delas precisa ser ouvida.

Eu não podia falar em TVs federais por tantos anos, e agora posso, sobre as coisas que importam: corrupção, violação de direitos humanos, o isolamento da Rússia, a pobreza da população. Sim, fazer parte dessa eleição de mentira significa que estou jogando pelas regras deles, mas não vou desistir, vou lutar até o último minuto. Eu tenho uma plataforma, “123 Degraus Difíceis”. Especialis­tas muito respeitado­s em economia, direitos humanos, direito e outros campos contribuír­am. Mas a coisa mais importante não é a plataforma, é mudar o sistema. Nenhum programa vai funcionar se você não tiver alternânci­a de poder. A sra. causou polêmica ao dizer que a Crimeia é ucraniana,

Veja quem disputa a eleição na Rússia

mas que uma simples devolução não pode acontecer. Qual é sua política para a situação?

Não sou populista e não posso prometer o que não posso fazer. Há mais de 2 milhões de pessoas na Crimeia e muitas se acham russas e querem viver na Rússia.

Depois da anexação, a Rússia fez um referendo em que a maioria da população aprovou a união. Mas esqueceram de perguntar o que os ucranianos acharam. Então acho que um novo referendo, reconhecid­o e monitorado globalment­e, deve ocorrer e que

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