Folha de S.Paulo

Prédio irregular desaba e mata 4 em Salvador

Família com 2 adultos, um adolescent­e e um bebê morreu sob os escombros de imóvel erguido em área de invasão

- DHIEGO MAIA RODRIGO MENESES INTERCÂMBI­O VAZAMENTO

Defesa Civil associa acidente a risco de obra sem seguir normas de segurança; local não está em mapa de risco

O desabament­o de um prédio de três andares na manhã desta terça-feira (13) em Salvador deixou mortas quatro pessoas da mesma família — entre elas, um bebê.

O prédio, localizado no bairro de Pituaçu, caiu por volta das 6h. A construção é recente, não tem alvará e foi erguida em área de invasão.

Segundo os bombeiros, morreram Robert Pereira, 12, o irmão Arthur, de apenas 1 ano, a mãe das crianças, Rosemeire Pereira, 33, e o irmão dela, Alan Pereira, 31.

Com o resgate do corpo de Rosemeire, última a ser retirada dos escombros, as buscas às vítimas foram encerradas no início da tarde.

Havia sete pessoas no imóvel que tem um porão, térreo, primeiro andar e laje. As vítimas estavam em um quarto.

No resgate, não foi possível usar maquinário pesado. Marretas e equipament­os ma- nuais abriram passagem entre os escombros para a localizaçã­o das vítimas. Uma casa vizinha ao prédio precisou ser parcialmen­te demolida para facilitar as buscas.

Outras três pessoas dormiam na laje do imóvel e conseguira­m escapar do acidente. Elas sofreram ferimentos leves porque foram atingidas por pedaços de telhas.

A hipótese dos bombeiros é que o terreno possa ter se movimentad­o e provocado o colapso da estrutura, também devido a fortes chuvas.

Moradores auxiliaram os bombeiros e os técnicos da Defesa Civil no resgate às vítimas. Um deles foi o entregador Luciano dos Santos, 39. Ele acordou com o barulho da queda do prédio.

“Não esperava que pudesse ser o desabament­o da casa. Uma vizinha me chamou e eu consegui, com ajuda de outros quatro vizinhos, resgatar o casal e o bebê de um ano que dormia na laje. Cheguei a cortar o pé e levar um choque andando sobre os escombros”, afirma Santos.

“Um vizinho ouviu um barulho e viu a casa com uma rachadura. Quando ele saiu para avisar, já encontrou a casa dos meus parentes desabada”, diz a empregada doméstica Eliana de Jesus, 30.

Ela conta que o imóvel havia sido erguido havia dois anos. “Aqui na favela o povo vai construind­o. Ninguém solicita alvará e a prefeitura nunca apareceu para embargar.”

O desabament­o do imóvel atingiu ainda três barracos de madeira próximos, mas nenhum morador se machucou.

Nos fundos do imóvel existem outros barracos e um rio, para onde corre toda água da chuva e do esgoto —não há rede coletora no local.

O diretor geral da Defesa Civil de Salvador, Sósthenes Macêdo, afirmou que a rua onde ocorreu o desabament­o não está entre as 600 áreas de risco da capital baiana. Ele liga a ocorrência ao risco de construção, quando o imóvel é erguido sem seguir as normas de segurança da engenharia.

A prefeitura, em nota, confirmou que a moradia era irregular. “[O imóvel que desabou] foi construído recentemen­te de forma irregular e não ocupava área de risco.”

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), disse que é impossível a administra­ção fiscalizar todas as construçõe­s e pediu que as pessoas que vivem em imóveis ameaçados procurem a Defesa Civil.

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Luciano da Matta/Ag. A Tarde/Folhapress Bombeiros removem corpo de uma das quatro pessoas mortas no desabament­o de um prédio em Pituaçu, em Salvador

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