Físico Stephen Hawking morre aos 76 anos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O astrofísico britânico Stephen Hawking, o mais famoso cientista da contemporaneidade, morreu no início da madrugada desta quarta (14), aos 76 anos, em Cambridge, no Reino Unido.
Autor do best-seller “Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros”, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares, Hawking morreu em casa, segundo comunicado divulgado por sua família.
“Ele foi um grande cientista, um homem extraordinário cujo trabalho e legado vão perdurar por anos”, diz nota assinada por seus filhos, Lucy, Robert e Tim.
Caçula de quatro irmãos, Hawking tornou-se mundialmente conhecido em 1974, com a publicação de estudos que argumentavam que a interação entre a teoria da relatividade —de Einstein— com a mecânica quântica gerava efeitos de radiação nos buracos negros. Em sua tese, o físico afirmava que o processo entre as duas teorias causava evaporação e consequentemente o desaparecimento dos buracos ao longo do tempo.
Onze anos antes, em 1963, aos 21 anos e recém-graduado em física pela Universidade de Oxford, o cientista fora diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), transtorno neurodegenerativo que causa a perda progressiva da coordenação muscular e dos movimentos do corpo, com sobrevida estimada em quatro anos. UNIVERSO Quando Hawking se aposentou, em outubro de 2009, a comoção tomou conta do mundo. Um cientista cuja carreira parecia condenada ao fim antes mesmo de começar não só cumpriu 30 anos de serviços prestados numa das mais prestigiosas vagas da Universidade de Cambridge como contribuiu com muitas das ideias que ajudam a definir o Universo tal como é compreendido hoje.
Nascido a 8 de janeiro de 1942 em Oxford, Inglaterra, Hawking desde cedo demonstrou interesse por matemática e astronomia, embora nunca tenha sido um aluno brilhante ou dedicado. Seu pai era biólogo, o que pode ter ajudado a despertar seu interesse por ciência.
No início de sua trajetória acadêmica, estudou física no University College de Oxford. Ao obter o bacharelado em 1962, foi para Cambridge, e logo que chegou começou a desenvolver os sintomas da esclerose lateral amiotrófica.
De progressão usualmente rápida, ela é caracterizada pela crescente paralisia dos músculos, culminando com a incapacidade de respirar e a morte. Seu médico havia predito que em três anos, no máximo, Hawking estaria morto —antes mesmo da conclusão de seu doutorado.
De início, o jovem viu poucos motivos para continuar engajado. Mas seu casamento com Jane Wilde, em 1965, a despeito da progressão dos sintomas, serviu como força motriz para seguir trabalhando. E, para a surpresa dos médicos, a doença avançou de forma muito mais lenta do que de costume —Hawking é o recordista no quesito longevidade pós-diagnóstico. REVOLUÇÕES Trabalhando na área de cosmologia e astrofísica, principalmente nos problemas ligados aos buracos negros, Hawking descobriu, em 1974, que esses objetos não são completamente escuros, mas emitem radiação térmica.
Buracos negros, normalmente formados pelo colapso de estrelas de alta massa, são objetos tão comprimidos e densos que a força gravitacional ao seu redor impede que qualquer coisa escape deles —até mesmo a luz.
Contudo, Hawking demonstrou que certos efeitos quânticos fazem com que esses objetos emitam uma pequena quantidade de energia. Isso quer dizer que, com o tempo (medido em trilhões de anos), eles evaporam completamente e somem sem deixar vestígios. SEM NOBEL Essa foi sem dúvida sua mais relevante contribuição científica, que só não lhe valeu um Prêmio Nobel porque ainda carece de confirmação observacional.
Na Universidade de Cambridge, Hawking ocupou por três décadas a cátedra Lucasiana, posto que pertenceu no passado ao físico Isaac Newton. E, como seu antecessor, ele cultivou sucessos científicos que certamente serão lembrados durante muitos séculos.
Entretanto, sua imagem pública foi construída longe disso, mais focada em suas ideias genéricas sobre a origem e a natureza do Universo, inicialmente apresentadas no best-seller “Uma Breve História do Tempo”, de 1988. Foi graças a esse livro que Hawking se tornou mundialmente famoso, não só pelos conceitos que apresentou mas sobretudo pelo fascínio que sua figura —o gênio preso a uma cadeira de rodas— provocava nas pessoas. DOIS LADOS DA FAMA Àquela altura, Hawking só podia falar por um sintetizador eletrônico que produzia voz (com sotaque americano) baseada em texto digitado pelo cientista com os poucos movimentos que tinha.
Ele perdera completamente a fala depois de passar por uma traqueotomia de emergência, em 1985, após contrair pneumonia.
Hawking se tornou tão popular que fez uma ponta, como ele mesmo, na série de TV “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, em 1993, e uma gravação sua (com voz de sintetizador) foi parar numa música da banda Pink Floyd, no ano seguinte. Mais tarde, ele atuaria como si mesmo em diversos episódios do seriado “Os Simpsons”.
E foi com base no crescente peso da fama e na dificuldade cada vez maior de cuidar do marido doente que Jane pediu o divórcio, em 1991, depois de 25 anos juntos e três filhos. Hawking voltou a se casar em 1995, com sua enfermeira Elaine Mason, mas o segundo enlace terminou em 2006, com acusações (jamais confirmadas) de que a mulher o agredia.
Ao longo da carreira, Hawking usou sua popularidade para advogar em favor de diversas causas, principalmente na defesa dos direitos dos deficientes físicos. Outro tema recorrente era a promoção da exploração espacial. O físico acreditava que a sobrevivência da humanidade a longo prazo depende da colonização de outros mundos.
Hawking não só defendeu os voos espaciais como planejou tomar parte neles. Em 2007, ele se tornou o primeiro tetraplégico a experimentar a sensação de ausência de peso, ao realizar voos parabólicos em um avião. Era a preparação para uma futura visita ao espaço, a bordo de uma espaçonave comercial da empresa Virgin Galactic.
Sua história foi contada no filme “A Teoria de Tudo” (2014). Eddie Redmayne, que interpretou o físico, ganhou o Oscar de melhor ator em 2015.