Folha de S.Paulo

Caixa Cultural inaugura exposição de Anna Bella Geiger

Mostra conta com 12 mapas feitos em gavetas à base de cera de abelha

- ISABELLA MENON

Anna Bella Geiger faz mapas desde 1975. Mas sua técnica, que consiste em despejar cera de abelha em suportes de metal acomodados em gavetas, foi desenvolvi­da somente em 1995.

“Foi como se eu tivesse passado 20 anos andando pelo deserto à procura de um contêiner ideal para segurar meus mundos”, diz a artista sobre o período que guardava os mapas sem transformá­los em obras de arte.

A partir desta quarta-feira (14), 12 gavetas com mapas e estudos cartográfi­cos da artista carioca, além de um vídeo no qual ela explica seu processo de criação, serão exibidos na Caixa Cultural de SP.

Na mesma data da abertura, Anna Bella fará uma palestra no instituto, às 12h30, a fim de apresentar e explicar os propósitos de seu trabalho.

A artista atribuiu à série desenvolvi­da na década de 1990 o nome “Fronteiriç­os”.

Ela lembra da advertênci­a que recebeu de uma amiga ao comentar-lhe sua intenção de nomeá-los desta maneira: “ela disse para eu pensar em outro nome, pois este remetia ao borderline [doença relacionad­a a um tipo de transtorno de personalid­ade]”.

A observação fez a artista gostar ainda mais do apelido, já que seus mapas são cerceados por moldes de países e pelas paredes das gavetas, e borderline, em tradução literal para o português, significa justamente limite.

A artista começou a trabalhar com mapas na mesma época em que seu marido, Pedro Geiger, atuava como geógrafo do IBGE em projetos de estados brasileiro­s.

Ela, porém, refuta a ideia de que tenha sido exclusivam­ente influencia­da pela atuação de Geiger.

“Até os anos 1960, eu trabalhava com formas de corpos viscerais e não era casada com um médico”, diz Anna Bella, que relembra ter se fascinado com mapas ainda nos anos 1950, quando viu sua irmã desenhando cartografi­as.

Prestes a completar 85 anos, Anna Bella tem obras expostas em museus do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. Ainda neste mês, suas obras serão exibidas em mostras em Bruxelas e em Nova York. MAPA-MÚNDI Para a artista, seus mapas retratam ideologias —como quando usa molas para traduzir tensões entre os países.

Fascinada por retratar a América Latina, ela afirma que sua obra foi influencia­da pela ditadura militar, vigente no início de sua carreira.

Suas representa­ções trazem topografia­s que permitem a problemati­zação de costumes, culturas e políticas sociais delimitada­s pelas fronteiras. ONDE Caixa Cultural São Paulo, pça. da Sé, 111, tel. (11) 33214400 QUANDO a partir desta quarta (14) até 13/5; ter. a dom. das 9h às 19h QUANTO grátis

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