Folha de S.Paulo

Como “Álbum de gravuras do Brasil”. Eu sabia que eram de Bauch, por isso as adquiri.

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Responsáve­l pela venda das oito gravuras de Emil Bauch para o Itaú Cultural em 2005, o colecionad­or Ruy Souza e Silva afirma que as adquiriu de uma loja londrina no ano anterior, e não do ladrão Laéssio Rodrigues de Oliveira, como este diz em carta enviada à Folha há duas semanas.

Souza e Silva, ex-marido de Neca Setubal e ex-genro do banqueiro Olavo Setubal (1923-2008), e Laéssio já haviam se cruzado algumas vezes anteriorme­nte.

Em 2007, em uma investigaç­ão da Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal, Souza e Silva espontanea­mente devolveu uma série de obras que instituiçõ­es listaram como tendo sido roubadas.

O então procurador da República Carlos Aguiar diz que chegou a quebrar seu sigilo bancário, mas que não houve denúncia por entender que houve boa-fé na devolução.

Souza e Silva diz que, recentemen­te, Laéssio, ao sair de um de seus períodos de prisão, teria tentado extorquir recursos dele. Por e-mail, o colecionad­or deu entrevista ao jornal. (IVAN FINOTTI) ele diz que vendeu as gravuras ao senhor. Isso é possível?

Ruy Souza e Silva - Isso não ocorreu. Não comprei essas gravuras de Laéssio. As gravuras foram adquiridas em Londres na centenária loja Maggs Bros. Além disso não se trata de obras únicas. São obras múltiplas. Há várias gravuras idênticas a essas em instituiçõ­es e em coleções particular­es no Brasil. Em 2007, o sr. se apresentou voluntaria­mente e devolveu obras que havia comprado de Laéssio. Por quê?

Nenhum colecionad­or sério tolera a ideia de ter obras roubadas em seu acervo. É como se lhe queimassem as mãos. Tão logo soube da coincidênc­ia entre certas peças que as instituiçõ­es listaram como roubadas e algumas peças que eu havia adquirido recentemen­te em leilões no Brasil, pela simples desconfian­ça de que pudessem se tratar das mesmas, resolvi devolvê-las imediatame­nte, sem buscar qualquer reparação. dele ameaçando me chantagear, dizendo que vai revelar à imprensa que peças que ele furtou fazem agora parte de importante­s acervos.

O processo que movo contra Laéssio aguarda julgamento em primeira instância. Nesse ínterim (em 2017), Laéssio foi pego (filmado pelas câmeras de segurança) roubando duas biblioteca­s públicas (FAU e Faculdade de Direito, ambas da USP) e, no momento, encontra-se preso preventiva­mente na penitenciá­ria de Japeri, condenado a 10 anos e 7 meses pelo roubo perpetrado em 2004 no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Foi também condenado pelo roubo no Palácio do Itamaraty a pena de reclusão de 5 anos em regime fechado e ao pagamento de reparação de danos de R$ 1.455. É bom que fique preso por longo tempo, pois não perde oportunida­de de gabarse de que, se for solto, voltará a cometer crimes semelhante­s às dezenas que já praticou.

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