Folha de S.Paulo

EUA têm critérios para livrar países de sobretaxas e Brasil avalia opções

Governo Trump apresenta contrapart­idas para União Europeia que indicam caminho a seguir

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

No Brasil, ministros da Indústria e Comércio Exterior e das Relações Exteriores fazem reunião para traçar ação

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, reúnem-se na manhã desta quarta-feira (14) para discutir formas de barganhar a exclusão do Brasil das novas tarifas americanas sobre aço e alumínio, que entram em vigor no dia 23. A presença de Michel Temer não foi confirmada.

Os EUA têm dado pistas sobre como conduzirão a negociação e os brasileiro­s estão atentos. Segundo reportagem do site Politico e apuração da Folha, o escritório comercial dos EUA determinou critérios para a retirada de países europeus da lista de tarifas, que podem ser semelhante­s a exigências para o Brasil, que nem sequer foi informado sobre possíveis critérios para negociação.

Uma das exigências é que o parceiro comercial participe dos foros globais sobre excesso de capacidade de produção de aço —algo que o Brasil já faz. Outra é que o país exportador não seja usado para triangulaç­ão pela China, ou seja, que não funcione como ponto de reexportaç­ão de aço chinês, o que não ocorre no Brasil.

Outro critério para negociar a exclusão das tarifas é que os países europeus apoiem os EUA em ações antidumpin­g e antissubsí­dios na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio). O Brasil rejeita esse alinhament­o automático.

E o critério mais polêmico é a criação de uma cota de exportação isenta de tarifas, baseada no histórico de volumes exportados por cada país. Na realidade, trata-se de “restrições voluntária­s de exportação” a serem adotadas pelos países, que são ilegais segundo a OMC, mas podem ser a única maneira de manter parte do mercado ameri- cano. O Brasil se opõe a isso.

Por fim, os EUA analisaria­m se o país é um parceiro em segurança, como é o caso dos membros da Otan (aliança militar de países do Atlântico Norte). OPÇÕES BRASILEIRA­S Entre as opções já em análise no Brasil está a formação de uma coalizão com a Coreia do Sul, Japão e China para contestar a medida na OMC. Já existem conversas nesse sentido. O objetivo seria pressionar os americanos, mais do que confiar na capacidade da OMC de fazer valer a decisão, uma vez que a discussão poderia demorar mais de quatro anos e os EUA poderiam simplesmen­te ignorá-la.

Conforme antecipado pela coluna Painel nesta terça (13), o Brasil também estuda usar como moeda de troca a eliminação da cota para importação de etanol e abrir a cota de importação de trigo, reivindica­ções americanas.

O Brasil havia retirado a tarifa de importação sobre o etanol em 2010, e, em 2011, expirou a taxa imposta pelos americanos ao produto brasileiro. Em 2017, diante da decisão dos EUA de barrar a carne brasileira e sob pressão dos usineiros, o Brasil impôs tarifa de 20% na importação para volumes acima da cota de 600 milhões de litros ao ano.

No caso do trigo, o Brasil avalia isentar de tarifa de importação uma cota de 750 mil toneladas do produto de fora do Mercosul, o que favoreceri­a EUA e Rússia.

As duas concessões, porém, são pequenas diante do valor da exportação brasileira de aço para os EUA —a cota total do trigo equivale a US$ 140 milhões, e a venda de produtos siderúrgic­os para os americanos chega a quase US$ 3 bilhões.

O governo ainda poderia condiciona­r a entrada em vigor do acordo de céus abertos, que libera rotas aéreas no Brasil e é um pleito americano. O acordo ficou seis anos parado na Casa Civil e 18 meses no Congresso e foi aprovado na semana passada.

Uma terceira via seria a diplomacia presidenci­al. Vários chefes de Estado já telefonara­m para Donald Trump para pedir que seus países sejam poupados.

O argentino Mauricio Macri ligou para Trump na semana passada e o líder americano teria se comprometi­do a avaliar o pedido dos argentinos, que exportam só US$ 21,5 milhões em aço e US$ 494,6 milhões em alumínio.

Para observador­es em Washington, um telefonema de Temer a Trump seria essencial neste momento, atentando para o fato de que o líder americano é particular­mente suscetível à lisonja.

Enquanto isso, o Instituto Aço Brasil coordena-se com consumidor­es americanos de aço brasileiro para que eles contestem a medida no Departamen­to de Comércio.

As tarifas, que variam de acordo com o tipo de produto, passarão de até 0,9% para 25% sobre o aço e de 2% para 10% sobre o alumínio.

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Mark Blinch/Reuters » SELFIE DE AÇO O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, faz fotografia com funcionári­os de unidade da ArcelorMit­tal em Ontário; país ficou livre da sobretaxa imposta ao aço e ao alumínio pelo presidente Donald Trump

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