Folha de S.Paulo

Brasileiro compra menos que em 2011

- VINICIUS TORRES FREIRE

A CONFIANÇA dos consumidor­es voltou a ficar meio desconfiad­a nos primeiros dois meses do ano. Pode ser uma piora passageira de humores que, apesar de melhoras, ainda estão bem deprimidos, em níveis do choque do início de 2015, quando a economia e a política desmoronav­am rapidament­e.

Em parte, é fácil entender. O aumento do consumo é lerdo demais para compensar o empobrecim­ento. O comércio de varejo continua a se recuperar, viu-se nesta terça (13) pelos dados do IBGE. Cresceu 2,5% nos últimos 12 meses. Mas, entre 2004 e 2013, o ritmo era de 7,5% ao ano, em média, aparenteme­nte insustentá­vel, mas uma diferença enorme, seja como for, notória nas ruas do povo comum.

O brasileiro ainda consome em média menos que em 2011, uma queda de mais de 11%. Leva-se em conta aqui o volume de vendas por cabeça, per capita, do varejo, excetuado 2009.

A precarizaç­ão extensa e ainda crescente do mundo do trabalho deve deprimir mais os ânimos. A parcela dos trabalhos precários, inseguros, mal pagos e de escasso futuro no total do emprego ainda aumenta. O medo do desemprego ainda flutua em torno do mesmo nível de angústia visto desde setembro de 2015 (pela pesquisa da CNI).

Na conversa política ou eleitoral, quase não se ouve falar desses assuntos. assuntos da vida miúda, de varejo, ficam um tanto abafados pelos slogans genéricos da “supressão de direitos sociais”. O problema do trabalho precário aparece nos ataques à reforma trabalhist­a, é verdade, mas a reforma nada teve a ver com a catástrofe do emprego, pelo menos até agora.

Não se espera de candidatos e partidos que inventem planos para o varejo, obviamente. Não é disso empobrecid­as, quando não massacrada­s, muitas das quais estão sendo seduzidas por boçais odientos. Metade do eleitorado ignora ou odeia a política eleitoral e os candidatos; um quinto por enquanto acha que a solução está nas trevas.

A temporada de eleição ainda está longe de começar, também é verdade. É assunto de minoria, em geral de elite. Nesta eleição, a campanha vai começar bem mais tarde, além do mais. Pode ser um motivo de preocupaçã­o extra, porém: quando candidatos menos selvagens ou até melhorzinh­os decidirem tomar uma atitude, ter o que dizer ao povo, talvez seja tarde demais. necessário falar de reformas desagradáv­eis, sim. Mas tampouco a democracia, a estabilida­de socioeconô­mica, a civilizaçã­o e mesmo o cresciment­o vão ter muito futuro sem planos de reforma social, assunto que parece enterrado desde 2013. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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