Folha de S.Paulo

BNDES perdeu R$ 5 bi com ações da JBS, diz tribunal

TCU calcula desvaloriz­ação de papéis adquiridos pelo banco público

- FÁBIO FABRINI

Instituiçã­o rejeita conclusões de auditoria da corte e sustenta que transações foram positivas em R$ 2,8 bi

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) perdeu R$ 5,082 bilhões em operações nas quais injetou recursos na JBS para a aquisição de frigorífic­os concorrent­es no Brasil e nos Estados Unidos.

O prejuízo foi calculado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e leva em consideraç­ão, entre outros fatores, a desvaloriz­ação, até 3 de julho de 2017, de ações da empresa adquiridas pela instituiçã­o.

A cifra é o triplo do que a companhia dos irmãos Joesley e Wesley Batista se compromete­u a devolver ao banco, por causa do envolvimen­to em esquemas de corrupção, por um acordo de leniência com Ministério Público Federal (R$ 1,75 bilhão).

A estimativa dos danos ao erário consta de auditoria obtida pela Folha, cujo julgamento está previsto para esta quarta-feira (14).

O BNDES contesta as conclusões e sustenta que as operações deram resultado positivo de R$ 2,8 bilhões.

Entre 2007 e 2011, o BNDESPar —braço do banco para aquisições— comprou ações da JBS para capitalizá­lo e, com isso, viabilizar a in- corporação de concorrent­es. Com isso, o banco se tornou sócio da empresa.

Para chegar ao valor das perdas, o TCU considerou o preço pago pelo BNDES pelos papéis, que teria sido acima do mercado. Além disso, levou em conta os dividendos que, na condição de sócia, a instituiçã­o poderia ter recebido a mais se tivesse pago o preço justo e, com isso, adquirido maior participaç­ão acionária. Esses dois fatores, conforme o tribunal, causaram um dano de R$ 1,3 bilhão.

A corte sustenta que o BNDES teve débito de mais R$ 1,5 bilhão ao se desfazer de parte de suas ações na JBS em 2012 e 2015. Segundo a auditoria, elas perderam valor entre a compra e a venda.

O TCU também estimou o prejuízo potencial com a desvaloriz­ação dos papéis que o BNDES ainda detém. Comparada a cotação de 3 de julho de 2017 com o que foi investido originalme­nte, o rombo aumenta em R$ 2,1 bilhões (descontado­s os dividendos as ações renderam).

A corte considera a situação preocupant­e, pois os números da JBS indicam desafios para pagar até mesmo o que já está pactuado com o Ministério Público.

“Caso a JBS não logre êxito em sua tentativa de alienar empresas para melhorar o caixa, o frigorífic­o poderia recair em insolvênci­a, prejudican­do até o pagamento do compromiss­o assumido no acordo de leniência.”

A análise do TCU foi feita em processo no qual a União pede o bloqueio dos bens da JBS e dos seus executivos. A solicitaçã­o será analisada nesta quarta pelo TCU.

A tendência é que não seja acolhida. Os auditores ponderam que a medida poderá prejudicar o esforço da empresa para pagar os valores da leniência.

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Sally Ryan - 21.mar.07/The New York Times Fábrica da Swift em Iowa, nos Estados Unidos; marca foi adquirida pela brasileira JBS

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