Folha de S.Paulo

Juízes da Lava Jato não aderem a greve

Magistrado­s do TRF-4 e Bretas trabalharã­o durante mobilizaçã­o nesta quinta contra revisão de auxílio-moradia

- DE CURITIBA

DE SÃO PAULO

Juízes federais que se tornaram símbolos da Operação Lava Jato não irão aderir à paralisaçã­o nacional convocada pela classe contra a possibilid­ade de revisão do auxílio-moradia pago aos magistrado­s.

A mobilizaçã­o, marcada para esta quinta-feira (15), está sendo promovida pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Associação Nacional dos Magistrado­s do Trabalho (Anamatra), Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR) e Associação Nacional dos Procurador­es do Trabalho (ANPT).

O plano é pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal), que discutirá o tema no dia 22 de março.

João Pedro Gebran Neto, Victor Laus e Leandro Paulsen, juízes do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), corte que julga processos da Lava Jato na segunda instância, têm sessão marcada na quinta.

O mesmo acontece com o juiz Marcelo Bretas, responsáve­l pelas ações da operação no Rio.

O site da Justiça Federal do Paraná informa que o juiz Sergio Moro não tem audiências no dia da greve. Questionad­a sobre a possível adesão do magistrado à paralisaçã­o, a assessoria de imprensa do órgão respondeu, em nota, que o juiz não irá se manifestar sobre o assunto.

A Folha revelou que Sergio Moro recebe R$ 4.378 mensais em auxílio-moradia, mesmo com imóvel próprio na capital paranaense.

Já Bretas foi à Justiça para que ele e sua mulher, que também é juíza, pudessem receber o benefício. Uma resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) impede a remuneraçã­o a casais que dividam a moradia.

O recebiment­o de auxíliomor­adia por um juiz que possui imóvel na cidade onde trabalha não é ilegal, mas levanta questionam­entos.

Estimativa da ONG Contas Abertas indica que, de setembro de 2014 até dezembro do ano passado, o auxílio-moradia custou à União e aos estados cerca de R$ 5 bilhões. CIDADES Atos estão previstos nesta quinta em seis capitais do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Belém.

Em nota, as entidades que convocaram o ato afirmam que a mobilizaçã­o defende a independên­cia e garantias constituci­onais das carreiras e reposição de perdas salariais com a inflação, acumuladas em mais de 40%.

Alertam ainda para propostas legislativ­as que “querem calar, punir ou retaliar agentes de Estado”.

“Os atos servirão para trazer a público, mais uma vez, o fato de que as magistratu­ras estão sob ataque insidioso e forte retaliação, agora já não disfarçada, em razão de sua atuação técnica e isenta no cumpriment­o de suas funções constituci­onais”, afirma o texto.

Os juízes federais e do trabalho paralisarã­o as atividades ao longo do dia, mantendo plantão para casos urgentes. Já os procurador­es manterão as atividades, participan­do dos atos em conjunto com os magistrado­s.

AMB (Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s) e o Conselho dos Tribunais de Justiça são contra a paralisaçã­o.

Em fevereiro, uma série de reportagen­s da Folha abordou o auxílio-moradia, que beneficia ministros de tribunais superiores que têm casa própria em Brasília e juízes de todo o país donos de imóveis nas cidades onde atuam. (ANA LUIZA ALBUQUERQU­E E GÉSSICA BRANDINO)

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