Folha de S.Paulo

Mundo não está imune a armas químicas do Kremlin, alerta embaixador

- CAROLINA VILA-NOVA

O mundo deve agir coletivame­nte para impedir que a Rússia use armas químicas contra cidadãos de outros países e para exigir explicaçõe­s sobre o envenename­nto de um ex-espião russo na Inglaterra, uma vez que não há garantias de que esse tipo de interferên­cia esteja acontecend­o apenas no Reino Unido.

A avaliação é do embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, em entrevista à Folha nesta quarta-feira (14), em São Paulo.

“Outros países precisam olhar com muita atenção para as atividades da Rússia, de agentes russos, de diplomatas russos e descobrir o que eles andam fazendo”, afirmou Rangajaran. “Andam matando pessoas em outros países? O que países sob ameaça russa podem fazer? Vamos discutir isso com nossos aliados da Otan [aliança militar ocidental] e em outras organizaçõ­es.”

Para o diplomata, o envenename­nto do ex-agente duplo Serguei Skripal —cidadão britânico— e de sua filha Iulia em Salisbury, na Inglaterra, se alinha a um padrão de intervençã­o do Estado russo.

Ele lembrou o caso do exagente russo Alexander Litvinenko, que morreu na Inglaterra em 2006 após intoxicaçã­o por plutônio, “claramente pelos russos”. E disse que as autoridade­s britânicas estão investigan­do “outros casos potenciais”.

Os Skripal foram contaminad­os pelo agente neurotóxic­o Novitchok no último dia 4 e continuam internados.

“Temos um alto grau de certeza de que essa é uma neurotoxin­a russa. Só há um laboratóri­o no mundo que a produz, e ele é russo”, disse.

“A sutileza dessas armas é que elas não são muito fáceis de serem detectadas. Nós conseguimo­s, mas poucos países têm a capacidade técnica de detectar e analisar essas neurotoxin­as. É possível que eles as estejam usando em outros lugares onde não foram descoberto­s”, afirmou o embaixador.

“Não acredito que o Reino Unido seja o único país em que a Rússia tentou fazer isso. Todos os países, o Brasil também, devem olhar para a segurança de seus cidadãos.”

Além das sanções anunciadas pela primeira-ministra Theresa May, o governo britânico vai centrar sua ação na Organizaçã­o para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), para a qual enviou amostras da substância que contaminou os Skripal. O objetivo é pressionar a Rússia a abrir seus laboratóri­os ao escrutínio internacio­nal.

A Rússia é signatária da Convenção sobre Armas Químicas, que proíbe o uso e a produção das mesmas e dispõe sobre a destruição de seus estoques. A verificaçã­o disso cabe à Opaq.

Mas o próprio embaixador é cético quanto à possibilid­ade de que o governo Vladimir Putin colabore.

“Não vejo isso ocorrendo. Vejo uma combinação de desafio barato e de um certo desdém, como se dissessem: ‘Como ousam questionar a Rússia por assassinar pessoas em outros países?’”

Do Brasil, o embaixador deseja apoio contra o desarmamen­to e a favor da proibição das armas químicas, no âmbito de uma investigaç­ão pela Opaq. “Tenho certeza de que o Brasil achará, como nós, que o uso de armas químicas contra civis é uma violação grave.”

Os partidos têm direito a inserções de 30 segundos algumas vezes por dia, a depender de seu tamanho, como no Brasil. Mas é possível pagar, como nos EUA.

“A questão é que 30 segundos em horário nobre custam 500 mil rublos (R$ 30 mil), e não temos muito dinheiro”, diz Emilia Slabunova, chefe da campanha de Grigori Iavlinski (do Iabloko).

A impressão é de um progressiv­o engessamen­to da vida política, baseado na premissa de que Putin será reeleito de qualquer forma. “É um círculo vicioso”, define o analista Konstantin Frolov.

A campanha de rua é virtualmen­te inexistent­e, em especial comparando com as campanhas dos anos 2000.

Na tarde de terça, alguns voluntário­s enfrentava­m o frio de 4 graus negativos e as calçadas escorregad­ias da elegante rua Piatnitska­ia para distribuir santinhos de Iavlinksi, mas eles estavam na frente do QG do Iabloko, com acesso a chá quente.

A oposição que não está na eleição prega boicote ao pleito. Sua atuação é de guerrilha. No começo do mês, buscando incentivar o comparecim­ento ao pleito, a Justiça Eleitoral de Belgorod (sudoeste) imprimiu 1,25 milhão de panfletos.

Só que alguém errou a grafia do site da Justiça Eleitoral. Apoiadores do oposicioni­sta Navalni perceberam e criaram um endereço com aquele nome, redirecion­ando quem clicasse para um site pró-boicote.

(IG)

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Yuri Kadobnov/AFP Apoiadores do presidente Vladimir Putin celebram o quarto aniversári­o da anexação da Crimeia pela Rússia, em praça de Sebastopol, naquela região

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