Folha de S.Paulo

Presente ruim, futuro pior

- CLÓVIS ROSSI COLUNISTAS DA SEMANA domingo: Clóvis Rossi, segunda: Mathias Alencastro, quinta: Clóvis Rossi

O FÓRUM Econômico Mundial divulgou nesta quarta (14) o seu Relatório sobre Cresciment­o e Desenvolvi­mento Inclusivo, referente a 2017.

Preciso dizer que, como sempre acontece quando sai um ranking internacio­nal, o Brasil passa vergonha? É apenas o 37º colocado entre os 74 países listados.

Perde para todos os seus pares na América Latina, menos para o trio dos mais pobres (Bolívia, Guatemala e Honduras). Perde para o Paraguai (20º), aquele país vizinho que costuma ser alvo de tantas piadas dos brasileiro­s que não enxergam o próprio rabo.

Perde para Nicarágua (29º) e para El Salvador (35º), que há 30 e poucos anos estavam sendo devastados por uma guerra civil. Perde para a Colômbia (30º), que só no ano passado pôs fim a seu conflito interno com as guerrilhas.

É claro que o índice não mede apenas o Produto Interno Bruto dez primeiros do mundo. de vida dos habitantes —“um fenômeno multidimen­sional que engloba renda, oportunida­de de emprego, segurança econômica e qualidade de vida”.

Não preciso dizer que a formidável recessão iniciada em fins de 2014 provocou uma substancia­l piora em todas as dimensões citadas —que, de resto, nunca foram propriamen­te brilhantes no Brasil.

Não serve de consolo, pelo menos não para mim, o fato de que há por Klaus Schwab, o acadêmico e empresário alemão que inventou o Fórum Econômico Mundial: “O mundo está em uma encruzilha­da. Os sistemas sociais e políticos que tiraram milhões de pessoas da pobreza e que, por meio século, deram forma às nossas políticas nacionais e globais estão nos decepciona­ndo”.

Mais: “Os benefícios econômicos da genialidad­e e do esforço humano estão cada vez mais concentrad­os, lançado na ocasião da versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial, que termina nesta quinta (15) em São Paulo.

Se é assim no mundo, ao menos no mundo rico, muito pior é em um país como o Brasil, em que os benefícios da genialidad­e e do esforço sempre foram muito concentrad­os e em que a desigualda­de nunca diminui.

O presente fornece, portanto, uma penca de motivos para esse difuso mas disseminad­o sentimento de mal-estar que acomete porção substancia­l dos brasileiro­s. O pior é que o futuro pode ser ainda pior, com perdão da redundânci­a.

O Brasil parece estar fora do aproveitou o fórum da capital paulista para lançar a sua Agenda para a Indústria 4.0. Mas é pouco e tarde. Salvo focos isolados aqui e ali, a agenda do Brasil-2018 ainda é 2.0 ou menos. Significa que corremos sério risco de perder também o futuro. crossi@uol.com.br

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