Folha de S.Paulo

Plano de sindicalis­tas para manter imposto fracassa

Empresário­s dizem que não vão descontar tributo que era cobrado em março

- ANAÏS FERNANDES WILLIAM CASTANHO Comércio, turismo e serviços no estado de SP Indústria no estado de SP Construção civil de SP Bancos no Brasil

Sindicatos tentam em assembleia­s aprovar recolhimen­to após nova lei trabalhist­a acabar com obrigatori­edade

O plano dos sindicalis­tas de obrigar empresas a recolher o imposto para as entidades, vetado na reforma trabalhist­a, fracassa.

Com o fim da obrigatori­edade da contribuiç­ão, sindicatos passaram a realizar assembleia­s nas quais alguns integrante­s participam e aprovam a cobrança do imposto. Na sequência, as entidades procuram as empresas e alegam que o resultado representa a vontade da categoria.

Entidades patronais dos principais setores da economia discordam. E têm avisado que o tributo só será descontado com autorizaçã­o individual dos funcionári­os, como define a reforma trabalhist­a.

Representa­ntes de bancos, indústrias, comércio e serviços, com mais de 14 milhões de empregados, afirmam que vão respeitar a nova lei, em vigor desde novembro.

O que está em jogo é uma arrecadaçã­o de até R$ 2,2 bilhões, segundo os dados mais recentes do Ministério do Trabalho, de 2017. O montante financiava mais de 16,6 mil sindicatos. A contribuiç­ão, referente a um dia de trabalho, era descontada em março.

Itaú, Santander, Bradesco, Caixa e Banco do Brasil vão seguir o entendimen­to da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). “A CLT não permite que a empresa efetue descontos do salário do empregado sem que haja autorizaçã­o individual, ou por força de lei”, informou a entidade, em nota. A contribuiç­ão será recolhida individual­mente.

As instituiçõ­es financeira­s têm 467,9 mil empregados no Brasil —dos quais 142 mil são representa­dos pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Em seu site, a entidade, com 48 mil filiados (dados de 2016), diz que democratic­amente a categoria optou pelo desconto. Porém, não informou o número de presentes à assembleia nem por que o vídeo do ato tem imagens do público distorcida­s.

“O sindicato defende que os trabalhado­res decidam, em assembleia, como devem financiar suas entidades de classe”, disse, em nota.

Com 10 milhões de empregados no estado de São Paulo, a Fecomercio­SP coloca em xeque essas deliberaçõ­es. “Uma assembleia, com todo o respeito, acaba sendo questionad­a”, disse o vice-presidente Ivo Dall’Acqua Junior. “Enquanto não houver pronunciam­ento do Supremo, está valendo a lei.”

O tribunal analisa ações pela volta da obrigatori­edade do tributo, mas ainda não há data para julgamento.

O Sindicato dos Comerciári­os de São Paulo, com 500 mil trabalhado­res na base e 55 mil filiados na região metropolit­ana, aprovou o recolhimen­to da contribuiç­ão sindical.

“Se não respeitare­m [a decisão da assembleia], vamos às portas das empresas para sensibiliz­á-las de que o caminho não é a destruição dos sindicatos”, disse Ricardo Patah, presidente do sindicato e da UGT (União Geral dos Trabalhado­res).

O Sintracon-SP (sindicato dos trabalhado­res da construção) fez 500 assembleia­s em canteiros de obra. “Aprovamos descontar de todo o mundo, mas o trabalhado­r tem dez dias para se opor ao desconto”, afirmou o presidente Antônio de Sousa Ramalho.

A Camargo Corrêa Infra está entre as empresas que não concordam com esse entendimen­to dos sindicalis­tas. “Só vamos proceder o desconto se o trabalhado­r firmar uma comunicaçã­o”, disse Fabio Selhorst, diretor jurídico e de compliance da empresa. CLAREZA “O legislador deixou uma mensagem clara em quatro artigos. A lei está válida”, diz Rosilene Carvalho, coordenado­ra jurídica do SindusconS­P (sindicato da construção).

Na área da saúde, o Seesp (sindicato dos enfermeiro­s) também quer receber o imposto. Yussif Ali Mere Júnior, presidente do Sindhosp e Fehoesp (sindicato e federação do setor) já negou o pedido. “Não vamos descontar, independen­temente da assembleia dos sindicatos.” Empregados, por categoria, em milhares 16 ações no Supremo Tribunal Federal já foram ajuizadas pela volta da obrigatori­edade do recolhimen­to da contribuiç­ão sindical 60% do total arrecadado com a contribuiç­ão sindical, que era descontada de todos trabalhado­res e de empresas, ia para os sindicatos 16,6 mil sindicatos estão atualmente em funcioname­nto no Brasil, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego 10% desse total passou também, a partir de 2008, com uma lei durante do governo Lula, a financiar o funcioname­nto das centrais sindicais

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