Folha de S.Paulo

Capacidade de ação da OMC é uma incógnita, afirma Azevêdo

- MARIA CRISTINA FRIAS LUCIANA COELHO

FOLHA

A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de elevar tarifas sobre o aço e o alumínio joga o comércio mundial em águas desconheci­das com a possibilid­ade de culminar em uma guerra comercial, diz o diretor-geral da Organizaçã­o Mundial do Comércio, Roberto Azevêdo.

Isso porque a capacidade de ação da OMC neste caso é uma incógnita, já que Trump ameaça evocar a segurança nacional e o regulament­o da entidade é vago sobre a margem para questionar esse argumento, disse Azevêdo à Folha na noite de terça (13), quando ele se preparava para o Forum Econômico Mundial para a América Latina em São Paulo.

Por isso, segundo ele, possíveis processos no organismo contra a taxa correm o risco de serem esvaziados. um produto muito comerciali­zado e é insumo para vários setores da economia, e a medida pode alterar os preços relativos e causar desvios de comércio —é claro que ainda temos que ver como isso tudo vai evoluir.

E há o risco sistêmico, pois outros países acham que [a medida] não é compatível com as regras multilater­ais. Há risco de uma escalada que culmine no risco de uma guerra comercial. Existe essa chance de uma guerra comercial?

Nos anos 30 começou assim. Os EUA aplicaram uma lei para defender a sua indústria, outros países começaram a adotar medidas semelhante­s —porque à medida que um país fecha suas fronteiras para defender sua indústria criase pressão política para que os outros países façam o mesmo. Nos anos 30, dois terços do comércio mundial desaparece­ram em três anos. O Brasil pode ser incluído nas exceções? O acordo entre a União Europeia e o Mercosul está caminhando? O que o Brasil pode fazer para melhorar a inserção no comércio global?

O grande desafio do Brasil é competitiv­idade. Nós temos ineficiênc­ias que são conhecidas, introduzid­as pelo custo Brasil, pelos custos de produção, por ineficiênc­ias históricas, por proteção excessiva do mercado. Eu acho que o governo brasileiro tem dito que quer abrir mais, que procura mais exposição.

O acordo Mercosul e União Europeia é uma concretiza­ção dessa aspiração.

Eu acho que o caminho é esse, ir expondo o parque industrial brasileiro à competição para ele ter motivos para investir em uma produtivid­ade mais alta e integrá-lo com o parque global.

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