Folha de S.Paulo

Recuperaçã­o depende da reforma da Previdênci­a, diz presidente do Itaú

- RAQUEL LANDIM

Cândido Bracher, presidente do Itaú Unibanco, diz que a recuperaçã­o da economia brasileira está ameaçada caso o próximo presidente da República não aprove uma reforma da Previdênci­a.

“Temos tudo para um cresciment­o sustentáve­l menos contas públicas em ordem”, afirmou. Ele admite que não é um “assunto fácil para um palanque”, mas aconselha os candidatos a falar mais do benefício do que do remédio.

Bracher é um dos anfitriões do encontro do Fórum Econômico Mundial. Folha - A economia brasileira voltou a crescer depois de uma longa recessão. Essa recuperaçã­o é sustentáve­l?

Cândido Bracher - Temos inúmeros fatores positivos que vão sustentar o cresciment­o. O primeiro é uma situação externa confortáve­l, com déficit em conta corrente baixo, investimen­to direto estrangeir­o expressivo e reservas que são quase 20% do PIB.

Também temos uma inflação baixa. Os juros caíram bastante e podem cair mais. E temos uma capacidade ociosa de mão de obra acumulada na recessão que favorece o cresciment­o. Resumindo: temos tudo para um cresciment­o sustentáve­l, menos contas públicas em ordem. Existe um desequilíb­rio estrutural e crescente. que vem – mais até por fatores políticos do que econômicos.

O país ter mais um ano com déficit nominal [despesas menos receitas sem descontar a inflação] de 5% a 6% do PIB não é bom, mas não mata, especialme­nte se o PIB estiver crescendo. Mas não podemos deixar de aproveitar o primeiro ano de um governo recém eleito para fazer reformas estruturai­s. A medida que o tempo avança, é mais difícil estabelece­r a coalizão de forças necessária no Congresso para mudar a constituiç­ão. Que outras reformas o próximo governo deveria tentar aprovar?

Temos ineficiênc­ias na arrecadaçã­o de impostos, logo uma reforma tributária é muito importante. Também seria desejável uma reforma processual do sistema judiciário e a própria recuperaçã­o judicial precisa ser ajustada. Qual deveria ser o perfil do próximo presidente para conseguir aprovar as reformas?

O principal elemento é ser popular. E isso é quase algo tautológic­o: se ele for eleito, será popular. Outro ponto é ter a consciênci­a de que falta a estabilida­de fiscal para o país crescer. Claro que não é um assunto fácil para um palanque. Portanto, é importante falar mais do benefício que do remédio. É preciso mostrar que a sustentabi­lidade do cresciment­o depende disso. Os países desenvolvi­dos aparecem como o novo motor do cresciment­o global. Como isso afeta o Brasil e a região?

O mundo deve crescer 4% este ano. Os países desenvolvi­dos devem avançar mais que os emergentes, com exceção da China. Essa situação vai perdurar? Tem gente que diz que a cultura do compartilh­amento —por exemplo, Airbnb e Uber— vai trazer um aproveitam­ento melhor dos recursos, o que permitiria elevar o consumo sem inflação. Se o cresciment­o do mundo for movido especialme­nte pela inovação tecnológic­a, o Brasil tem que se preocupar muito com educação para não irmos a reboque. Para Bracher, motor do cresciment­o global será inovação tecnológic­a folha.com/gjimqe96

ANDRÉS VELASCO,

ex-ministro das Finanças do Chile

O avanço que o mundo teve até antes da crise global de 2008 foi impulsiona­do por práticas financeira­s que geraram a crise

HANS-PAUL BÜRKNER,

presidente do Boston Consulting Group

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