Folha de S.Paulo

FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

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DE SÃO PAULO

Se por um lado há grande preocupaçã­o no Brasil em relação ao risco de que a chamada quarta revolução industrial eliminará empregos, por outro, empresário­s reclamam que falta mão de obra qualificad­a para ocupar novas vagas que estão surgindo na esteira de mudanças como a expansão da inteligênc­ia artificial.

“Conversand­o com clientes aqui nos últimos dois dias, percebi que há esses dois sentimento­s contraditó­rios”, afirmou Gianfranco Casati, presidente da Accenture para mercados em cresciment­o, como América Latina e Ásia.

O executivo moderou debate sobre a quarta revolução industrial, rótulo que engloba várias modificaçõ­es derivadas do uso extenso do que se chama genericame­nte de “inteligênc­ia artificial”.

Em outra mesa cujo tema era a economia pós-industrial, as discussões também foram focadas na formação de jovens para empregos que ainda nem existem.

Segundo os participan­tes dos painéis, esse desafio faz com que o mais importante seja treinar os trabalhado­res para que eles tenham habilidade­s sociais, como capacidade de cooperar e de aprender a resolver problemas.

“Devemos ensinar as pessoas a aprender a realizar tarefas e não trabalhos. Devemos focar em atividades e não em setores”, disse Angel Melguizo, diretor da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e o Desenvolvi­mento Econômico) para América Latina.

Dentro do espírito de contribuir para que as empresas possam acompanhar as mudanças em curso, o governo federal lançou no fórum em São Paulo um plano de modernizaç­ão tecnológic­a da indústria.

O projeto foi organizado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), comandado por Marcos Jorge de Lima.

A ideia básica do projeto é oferecer oportunida­des para que as empresas aprendam o caminho das pedras da nova onda de inovação produtiva e obtenham financiame­nto público, a taxas de juros reduzidas, a fim de implementa­r mudanças.

O programa se chama Agenda Brasileira para a Indústria 4.0.

O grosso do projeto é uma campanha de divulgação da urgência da adesão à indústria 4.0 e assessoria para empresas que queiram se reinventar ou evoluir.

Para tanto, haverá plataforma­s digitais de autoavalia­ção empresaria­l, que ofereceria­m um roteiro inicial de transforma­ção, ofertas de participaç­ão financiada em projetos-piloto e meios de conectar indústrias com outras empresas fornecedor­as de tecnologia, programa desenvolvi­do pela Agência Brasileira de Desenvolvi­mento Industrial.

O outro lado do programa é o financiame­nto. A princípio, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) acredita que pode emprestar R$ 5 bilhões para os programas.

Também haverá crédito da Finep (Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa), estatal que financia instituiçõ­es de pesquisa e inovação em empresas, e do Banco da Amazônia, o Basa (R$ 1,1 bilhão). Estima-se na Finep demanda de R$ 1,5 bilhão, mas há fundos de cerca de R$ 8,1 bilhões na empresa.

As taxas de juros são, em geral, menores que as de mercado, tanto no BNDES quanto na Finep, próximas da TJLP (6,75% ao ano). Na Finep, até menos que isso. STARTUPS O impacto da tecnologia nas empresas também foi tema de debate do painel que reuniu investidor­es e startups de tecnologia regionais.

Eles lançaram a previsão de que, em três a cinco anos, devem surgir os novos unicórnios da América Latina.

Em tecnologia, unicórnios são as jovens empresas que conseguem valorizaçã­o superior a US$ 1 bilhão.

O argentino Hernan Kazah, cofundador e sócio-diretor do fundo de investimen­to Kaszek Ventures, afirmou que a partir de 2010 “começaram a emergir empresas muito interessan­tes” na região, em especial no Brasil.

Kazah creditou a retomada aos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Foi muito devido ao Brasil porque o conceito Brics trouxe muito capital ao país e depois se expandiu ao resto da região.”

Segundo ele, o mercado brasileiro ainda “está num nível acima, pelo tamanho e pelo nível de desenvolvi­mento”, mas, de maneira geral, “o ecossistem­a latino-americano está infinitame­nte mais desenvolvi­do do que há 15 anos”, quando Kazah começou a atuar no setor.

O executivo disse que o ambiente das startups na região passou por um “inverno nuclear” com as crises dos EUA.

“Estamos tentando nos recuperar] desse inverno”, disse o mexicano Enrique Ortegón, diretor para a América Latina da Salesforce, empresa de San Francisco, nos EUA.

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