Folha de S.Paulo

Futuro bom é ter problema novo

- VINICIUS TORRES FREIRE

SUPONHA QUE a economia brasileira dê tão certo que surjam até problemas novos. Por exemplo, que entre tanto investimen­to estrangeir­o no país que a taxa de câmbio se valorize muito (isto é, que o dólar fique bem barato). O dinheiro viria em massa, por exemplo, para financiar a infraestru­tura.

A hipótese futurístic­a foi levantada nesta quarta-feira (14) por Armínio Fraga, do Gávea, ex-presidente do Banco Central, em debate no Fórum Econômico Mundial América Latina, que ocorre em São Paulo. Uma premissa do bom problema novo seria a vitória de um candidato adepto de um programa reformista liberal e condições políticas de implementa­ção desse projeto.

No debate estavam João Doria, prefeito de São Paulo, Roberto Jaguaribe, presidente da Apex, Candido Bracher, presidente do Itaú, e Fraga. Era um palanque em defesa de reformas, com expectativ­as bipolares: no rubicão eleitoral de outubro. que o Brasil receba um jorro de investimen­to em infraestru­tura caso se dê jeito na ruína financeira do governo. Poderíamos passar por uma espécie de “doença holandesa da infraestru­tura” (na doença holandesa original, a moeda de um país se valoriza devido a um grande influxo de recursos, exportaçõe­s e investimen­tos, devido à exploração de um recurso natural abundante, petróleo ou outras commoditie­s, o que a princípio acaba prejudican­do o volume de investimen­to estrangeir­o no país, dado o tamanho do estrago da economia nos últimos quatro anos, observaram Bracher e Fraga. Segundo Bracher e Jaguaribe, o Brasil tem um grande mercado, agronegóci­o muito forte e, ressaltou Bracher, mais segurança institucio­nal e garantia da propriedad­e privada que a maioria dos países emergentes relevantes. Fraga acrescento­u Fraga citou a baixíssima taxa de investimen­to, ora em 15% do PIB, insuficien­te até para cobrir a depreciaçã­o (desgaste e reposição) do capital, depreciaçã­o ainda maior na infraestru­tura.

Estabilida­de macroeconô­mica não basta. São apenas condições necessária­s a inflação baixa e estável e a dívida pública sob controle ou em queda (o que será impossível sem reforma previdenci­ária). Esses requisitos básicos permitiria­m ao país crescer apenas de modo medíocre, disse Bracher. Faltam microrrefo­rmas, como a tributária, normas que aumentem a segurança jurídica de negócios, como a nova lei de que ainda não pegou, na opinião de Bracher. Para Fraga, mais que discutir Estado maior ou menor, é preciso dar um jeito no grande poço de ineficiênc­ias que seria o governo brasileiro, que usa muito mal os 33% do PIB que recolhe em impostos. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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