Engolindo sapos
A FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) trocou os patos da campanha “Não vou pagar o pato”, contra o pagamento de impostos e dos protestos pró-impeachment, pelos sapos de sua nova campanha, “Chega de engolir sapo”, contra os altos juros bancários cobrados de empresas e consumidores.
Antes que os mais ingênuos se convençam novamente das boas intenções da federação e de seu alinhamento com os interesses da maioria da população —a primeira contra o Estado e seus impostos e agora contra os bancos—, é bom refrescar um pouco a memória.
Tal como relatado pelo cientista político e colunista desta Folha André Singer no ensaio “Cutucando a onça com varas curtas”, publicado em julho de 2015 na revista Novos Estudos do Cebrap, foi a aliança da Fiesp com representantes sindicais estabelecida em maio de 2011 que deu sustentação à mudança mandato de Dilma Rousseff. trabalhadores e empresários pelo futuro da produção e do emprego”, publicado após o seminário que reuniu Fiesp, CUT (Central Única de Trabalhadores) e Força Sindical, apresentava diversas propostas para o desenvolvimento do país que foram entregues à presidente Dilma.
“É fundamental que haja, imediatamente, redução de juros, desoneração da folha de pagamento e outras medidas que possam compensar esse roubo de competitividade resumiu o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em entrevista concedida em 24 de maio de 2011.
Para que a redução da taxa Selic chegasse ao setor bancário, o governo federal reduziu os juros e os limites para diversas linhas de financiamento concedidas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Por meio dos bancos públicos, o governo forçou os concorrentes privados a reduzir os spreads —as margens cobradas pelos bancos sobre os juros básicos da economia. Caso não o fizessem, perderiam participação no mercado.
A adoção dessa Agenda Fiesp, do real e a concessão de vultosas desonerações tributárias aos mais diversos setores, fracassou por razões que vão desde graves erros de diagnóstico e de execução a algumas surpresas no cenário internacional.
Mas, além disso, como aponta Singer, “decorridos três anos da máxima unidade produtivista, a situação tinha-se alterado por completo. Os industriais pareciam ter aderido ao programa rentista. Com isso, do setor financeiro ao industrial, passando pelo agronegócio, o comércio e os serviços, a unidade capitalista em torno do corte de gastos públicos, da queda no valor do trabalho e da diminuição da proteção aos trabalhadores tornava-se completa”.
Entre as possíveis explicações aventadas, Singer destaca que a financeirização do capitalismo fez com que setores produtivos caíssem fundos de investimento e que, no caso do Brasil, as décadas de juros altos levaram empresas do próprio setor industrial a viver de rendimentos financeiros.
Moral da história: antes de distrair-se com patos ou sapos, cuidado com os morcegos. LAURA CARVALHO,