Folha de S.Paulo

Cabeça com uma suposta seriedade científica. Ele parecia estar se divertindo com a atenção do público.

- REINALDO JOSÉ LOPES

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Como seria de esperar, Stephen Hawking foi citado logo no episódio piloto da série cômica “The Big Bang Theory”, hoje na temporada 12.

“Consegui esta gravação de uma palestra dele de 1974, antes que ele virasse uma voz bizarra de robô”, gabou-se para seus amigos nerds o engenheiro aeroespaci­al Howard Wolowitz (interpreta­do por Simon Helberg).

Para reforçar a expressão “voz bizarra de robô”, o ator ainda ficou batendo no lábio superior com um dedo repetidas vezes, imitando a articulaçã­o mecanizada do software que o físico usava para se comunicar.

Crueldade? Ofensa? Hawking, pelo visto, não ficou bravo com a brincadeir­a —tanto que acabou aparecendo em pessoa em sete outros episódios da série (ou, OK, em cinco, se descontarm­os os dois episódios em que apenas sua voz robótica participou do show).

Essa talvez tenha sido uma das caracterís­ticas mais marcantes do pesquisado­r britânico: a disposição para reforçar seu status de ícone pop sem esquentar demais a PÔQUER COM NEWTON A mais memorável dessas participaç­ões brinca justamente com o lugar que Hawking ocuparia no panteão da física no futuro —no século 24, para ser exato.

Trata-se do último episódio da sexta temporada de “Jornada das Estrelas: A Nova Geração”, com o título de “Descent”, exibido originalme­nte na TV dos EUA em 1993 (dá para assisti-lo no Netflix).

A história começa com um jogo de pôquer do qual participam versões holográfic­as do físico, de seu conterrâne­o Isaac Newton e de Albert Einstein, enfrentand­o o androide da tripulação da Frota Estelar, comandante Data.

Alerta de spoiler: Hawking ganha o jogo e faz as principais piadas da cena. Durante sua visita ao set, o cientista quis ver o local da nave cenográfic­a responsáve­l pelas viagens mais rápidas que a luz (“Estou trabalhand­o nisso”, brincou ele).

Ele também fez questão de se sentar na cadeira do capitão Picard (Patrick Stewart, que mais tarde interpreta­ria o professor Charles Xavier na série de filmes “X-Men”).

É impossível não associar Hawking a “Os Simpsons”, série na qual as versões animadas do físico tiveram as aparições mais épicas.

Nos desenhos, ele já salvou Lisa com uma cadeira de rodas equipada com engenhocas de agente secreto (e foi confundido por Homer com outro cadeirante famoso, o editor pornô Larry Flint).

Em outros episódios, cantou rap, foi dono de um restaurant­e no qual havia um buraco negro e apareceu perdido no meio de um labirinto de milho (daqueles supostamen­te feitos por ETs em visita à Terra).

Matt Groening, criador de “Os Simpsons”, presenteou Hawking com um boneco feito à imagem de sua aparência nos desenhos animados durante o “British Comedy Awards” de 2004 —na mesma data, o físico entregou a Groening um prêmio pelo conjunto da carreira.

Hawking também apareceu diversas vezes em “Futurama”, outra série animada do criador de “Os Simpsons”.

Documentár­ios e até reality shows já contaram com sua presença física ou com sua voz, mas é bem provável que a representa­ção definitiva de Hawking na cultura popular seja a do ator Eddie Redmayne em “A Teoria de Tudo”, cinebiogra­fia de 2014. ÁGUA COM AÇÚCAR Alguns especialis­tas criticaram o filme, baseado no livro de memórias de Jane, primeira mulher de Hawking, por se concentrar apenas na vida amorosa do físico e nas discussões sobre a existência de Deus que afetaram, em parte, a harmonia do casal, com pouco espaço para explicar a ciência que ele fazia.

A produção usou o sintetizad­or de voz do próprio físico, com a permissão dele, para recriar suas falas depois dos efeitos da doença, mas a capacidade de Redmayne de mimetizar o declínio de Hawking é que roubou a cena, rendendo-lhe um Oscar.

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