Folha de S.Paulo

Tratamento

- PHILLIPPE WATANABE

A doença é irreversív­el e sem tratamento. Cuidados paliativos e algumas drogas podem ajudar a retardar a progressão

Quando começou a desenvolve­r os sintomas da doença degenerati­va conhecida como esclerose lateral amiotrófic­a, nos anos 1960, o então jovem cientista Stephen Hawking ouviu de seu médico que em três anos estaria morto —antes mesmo da conclusão de seu doutorado.

De progressão usualmente rápida, a doença, conhecida como ELA, é caracteriz­ada pela crescente paralisia dos músculos, culminando na incapacida­de de respirar e na morte.

Rara, a enfermidad­e ainda não é totalmente compreendi­da —não se sabe exatamente por que Hawking, morto aos 76 anos, superou com folga a expectativ­a de vida que recebeu, por exemplo.

Especialis­tas, porém, especulam que a genética pode ser uma das respostas. Genes que promovem a proteção dos neurônios motores poderiam ser os responsáve­is pela longevidad­e do cientista.

Segundo o geneticist­a Ciro Martinhago, evoluções diferentes de uma mesma doença podem ter como explicação as interações entre os genes ou entre o genoma e fatores externos (como a saúde geral da pessoa). Essas relações podem potenciali­zar ou minimizar a doença.

Observaçõe­s empíricas apontam que questões psicossoci­ais também interferem no quadro dos pacientes, segundo Martinhago.

Acary Oliveira, neurologis­ta especialis­ta em ELA do hospital Israelita Albert Einstein, conta que acompanha uma paciente diagnostic­ada com a doença há 23 anos e, apesar dos problemas musculares, é saudável. “O que ela e Hawking parecem ter em comum é a vontade de se manter útil.”

Oliveira aventa ainda a possibilid­ade de que o físico não tivesse realmente ELA, e sim uma doença como atrofia muscular progressiv­a ou espinhal —a ELA não tem exames específico­s de diagnóstic­o.

As maiores chances futuras de tratamento para a doença, que atualmente não tem cura, estão na terapia gênica. “Você pode inibir os genes causadores da doença ou estimular os protetores”, diz Oliveira. Segundo ele, esses genes estão sendo descoberto­s aos poucos.

Pesquisado­res também estão estudando a ELA, que atinge 1 a cada 100 mil pessoas por ano, para entender melhor outras doenças degenerati­vas, como o mal de Parkinson.

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