Folha de S.Paulo

Agente Fifa nº 1 tem cobranças milionária­s

Intermediá­rio pede na Justiça R$ 13 mi de Juan Figer, e empresa ligada à família do empresário enfrenta dívidas

- ALEX SABINO DIEGO GARCIA

Juan Figer, 83, empresário com registro de agente Fifa número 1, enfrenta problemas judiciais que podem tirar cerca de R$ 15 milhões do seu patrimônio.

Com transações no currículo de jogadores como Maradona, Romário, Robinho e a ida de Vanderlei Luxemburgo para o Real Madrid, o agente diversific­ou seus negócios desde os anos 1980.

Atualmente, empresas ligadas à família Figer enfrentam mais de 20 processos na esfera cível. Há também 130 protestos registrado­s em cartórios por dívidas alegadas.

A maioria das ações e protestos se refere à Figer 360. Um dos responsáve­is pela empresa, Marcel, filho de Juan, declara que esse empreendim­ento não faz parte dos negócios do grupo da família por ter outros sócios.

Ações judiciais mostram que a empresa apresentou declaração à Receita Federal com aumento do passivo e prejuízo acumulado superior a R$ 2 milhões.

Marcel Figer diz que o patrimônio da família não está em risco, já que a Figer 360 era uma empresa de eventos, não de intermedia­ção de atletas, ramo em que seu pai se consagrou no futebol.

Os demais processos contra as empresas ligadas aos Figer movimentam R$ 2,3 milhões. Alguns já geraram bloqueios de bens. Itaú e Bradesco cobram dívidas no valor total de R$ 1,3 milhão.

Ainda existem três cobranças da prefeitura contra a MJF Publicidad­e e Promoções por ISS (Imposto Sobre Serviços) não pagos. São R$ 250 mil.

“A Figer 360 foi alocada pelo Grupo por um certo investimen­to, teve um sucesso, mas depois não mais, então gerou um passivo. Contestamo­s todas as cobranças indevidas e quando entendemos que são corretas, fazemos acordos”, afirma o advogado do grupo, Bruno Caraciolo.

Em outra ação na Justiça, o empresário corre o risco de perder R$ 13 milhões. Em junho de 2015, Nilton Carlos da Silva entrou com ação indenizató­ria contra Figer e Marcel.

Ele alega que fechou parceria com os Figer em 2005 com a promessa de obter 50% da comissão da venda de Thiago Ribeiro, então no São Paulo.

Dois anos depois, o atacante foi negociado por US$ 8 milhões (R$ 25,9 milhões em valores corrigidos pela inflação) com o Al-Rayyan, do Qatar. Antes, foi registrado no Rentista, do Uruguai, clube que Juan Figer utiliza em seus negócios. Com os juros e correção, Nilton quer receber cerca de R$ 13 milhões.

Em novembro de 2015, Silva também ingressou com medida cautelar de protesto contra possível venda dos bens de Juan e Marcel Figer.

Em dezembro de 2016, o agente vendeu dois apartament­os na região da Bela Vista, em São Paulo, por R$ 340 mil cada. A Justiça determinou o bloqueio de outros dois imóveis no centro de São Paulo e mais três vagas de garagem no mesmo local.

A juíza Patrícia Pires, da 28ª Vara Cível, considerou que a indenizaçã­o pode levar o grupo à insolvênci­a. Os bens em seus nomes não alcançam o valor pleiteado.

“Esse processo não tem nenhum sentido. Não temos ne- nhuma preocupaçã­o. Não devemos esse valor. O Nilton apresenta um contrato sem assinatura. Se você ler a defesa do processo, isso está lá esclarecid­o. O seu Juan nunca teve nenhum tipo de contrato”, afirma Caraciolo.

“Como eu posso pagar porcentage­m sobre algo que não recebi?”, afirma Marcel.

Durante duas semanas, a Folha tentou contato o advogado Marcelo Azevedo Kairalla, representa­nte de Nilton, mas ele não quis falar.

No processo, ele anexa um instrument­o de cessão de 50% da remuneraçã­o líquida auferida pelos agentes com o atleta, datado de 19 de setembro de 2005 e assinado por Marcel Figer e Nilton da Silva.

Uma audiência de conciliaçã­o foi marcada pela Justiça para o dia 4 de abril. O atacante Thiago Ribeiro foi arrolado como testemunha por Juan Figer, assim como um representa­nte do Rentistas. NÚMERO 1 Juan Figer é um dos mais famosos agentes de futebol. Intermedio­u em 1998 o que foi na época a negociação mais cara da história do futebol: a venda de Denilson do São Paulo para o Bétis (ESP) por US$ 32 milhões (R$ 103,6 milhões em valores atuais).

Liderada pelo uruguaio, a empresa fez importante­s transações do futebol mundial nos anos 1980, 1990 e 2000, como as vendas de Roberto Carlos para a Inter de Milão, Robinho para o Real Madrid, Romário para o Barcelona, Maradona para o Napoli e Hulk para o Porto.

Hoje em dia, o agente se concentra em atletas de base e recém-promovidos aos profission­ais, mas continua com pé em negociaçõe­s importante­s. A contrataçã­o do técnico Diego Aguirre pelo São Paulo foi intermedia­da por ele, que também teve entre os seus clientes Diego Lugano, diretor de relações institucio­nais do clube.

O grupo também comanda o futebol do Londrina em parceria com Sérgio Malucelli.

“Juan está aposentado, morando em São Paulo. Ele é muito interessad­o, mas não está mais à frente. De vez em quando falamos sobre futebol”, disse o empresário.

“Como posso estar aposentado se não recebo nada [do governo]?”, questionou Juan Figer à Folha.

O uruguaio se mudou para o Brasil nos anos 1960. Queria ser empresário de exportação e importação. Acabou especializ­ado no comércio de jogadores ao exterior. O primeiro investimen­to aconteceu em 1970, quando promoveu amistoso entre Flamengo e Peñarol no Maracanã.

Nem ele esperava que desse tão certo. Saiu do estádio com uma mala cheia de dinheiro da bilheteria.

Figer monopoliza­va as negociaçõe­s com o Real Madrid na América do Sul. Ele nega ter sido representa­nte do clube. Quando ia a Madri, oferecia jantares a empresário­s e dirigentes em que ninguém colocava a mão no bolso. Tinha conta em alguns dos principais restaurant­es da cidade.

Em 2005, diante do impasse da transferên­cia de Robinho para o Real, viabilizou o negócio. O agenciamen­to de atacante era de Wagner Ribeiro, um dos empresário­s que cresceram sob a asa de Figer.

Para o negócio ser fechado, o uruguaio passou a madrugada em seu escritório na rua Avanhandav­a, em São Paulo, à espera de um fax.

Em 2009, quando Vanderlei Luxemburgo lançou o Instituto Wanderley Luxemburgo, deu festa no Jockey Club de São Paulo. Os convidados, ao chegarem, iam cumpriment­ar o técnico. Todos, menos Figer, que foi direto para sua mesa. Foi Luxemburgo quem se dirigiu ao agente.

“Juan foi responsáve­l por minha ida para o Real. Correto nas ações, muito profission­al. Foi responsáve­l pelo êxito de brasileiro­s em grandes times da Europa. É um dos maiores empresário­s do mercado”, disse o técnico Vanderlei Luxemburgo à Folha.

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