Folha de S.Paulo

Motorista fazia bico e se preparava para curso de mecânico de aviões

-

DO RIO

Na noite de quarta (14), quando fazia um bico substituin­do um amigo motorista de licença médica, Anderson Pedro Gomes, 39, foi alvejado e morto por balas que não o tinham como alvo. Era ele quem conduzia a vereadora Marielle Franco, 38, quando ela foi assassinad­a.

O carro em que estavam acabara de percorrer 4 km entre a Lapa, no centro do Rio, e o Estácio, na zona norte, quando foi atingido por nove tiros. A vereadora, que estava no lado direito do banco traseiro, levou quatro tiros de pistola na cabeça. Anderson foi baleado três vezes nas costas —estava na linha de tiro dela.

Foi o acaso que o colocou ali. Desemprega­do, começaria um período de teste como mecânico de uma empresa de aviação nas próximas semanas, de acordo com o irmão de Anderson, Francisco, 35.

Esta, diz Francisco, era a última semana de Anderson com a vereadora. “Mesmo com idade avançada, ele estava prestes a ter uma profissão. Estava todo feliz”, diz Francisco, que é engenheiro de manutenção de uma loja.

Quando foi morto, prestava serviço particular a Marielle, mas também trabalhava como motorista de Uber.

Não tinha ensino superior, mas fez curso de mecânico. Trabalhou na profissão, mas apenas em estágios. A oportunida­de na empresa de aviação era a sua primeira.

Começou a vida profission­al trabalhand­o em um bar. Depois, trabalhou em hotéis. Fez o curso de mecânico, mas como não conseguiu emprego na área, virou motorista.

Nascido e criado na favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, mudou-se para Inhaúma, bairro na zona norte, onde foi enterrado.

Casado havia cerca de quatro anos com Agatha Arnaus, assistente-executiva na área de educação do governo do Rio, tinha um filho de dois anos. O casal morava em um bairro de classe média e baixa da zona norte. Sua família era de Campina Grande (PB).

Os pais foram para o Rio ainda jovens em busca de emprego. O pai, que já morreu, era torneiro mecânico. A mãe, dona de casa. Além de Anderson e Francisco, tiveram duas filhas. Segundo Francisco, a família é grande e unida.

“Ainda não caiu a ficha. Ainda acho que ele vai aparecer no churrasco no sábado”, diz ele. (LF E MAC)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil