Folha de S.Paulo

Quem matou, quem mandou?

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RIO DE JANEIRO - Na última terça (13), durante um encontro na Associação Comercial de São Paulo, Michel Temer revelou a intenção de acabar com a intervençã­o na segurança do Rio em setembro —pelo decreto, os militares permanecem até o fim deste ano. Diante de empresário­s, o presidente voltou a tocar na sua flor de obsessão —a reforma da Previdênci­a— e se vangloriou: “Não é improvável que as coisas estejam entrando nos eixos no Rio”.

No dia seguinte a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinad­os. Enquanto Temer considerav­a que seu “golpe de mestre” já havia produzido o resultado de marketing desejado, Marielle levava quatro tiros na cabeça. Uma execução, um atentado político cuja gravidade não tem rival na história recente do Brasil.

Horas antes, a vereadora debatia sobre o cresciment­o de crimes contra mulheres negras —como ela. Na Câmara e nas redes sociais, denunciava o homicídio de jovens pela Polícia Militar e o clima de terror nas favelas dominadas pelo tráfico e pelas milícias. O modo como Marielle foi assassinad­a —não houve sequer a tentativa de mascarar a premeditaç­ão— é um sinal de que atravessam­os a linha no campo da violência, cada vez mais institucio­nalizada. Foi um recado claro: não mexam com a gente. Ninguém está a salvo.

A resposta foi dada nas ruas, não só na Cinelândia e em frente à Assembleia Legislativ­a —entupidas de gente—, como em outras capitais do país e do exterior. Pacificame­nte. Há muito não se via uma manifestaç­ão tão grande de solidaried­ade e protesto, e, de maneira simbólica, sem a presença da PM ou de mascarados.

Temer cancelou a viagem que faria ao Rio, neste domingo (18), para trombetear as conquistas do primeiro mês de intervençã­o. “Não matarão nosso futuro”, garantiu. O primeiro passo é achar quem matou e quem mandou matar Marielle. ANDRÉ SINGER

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