Folha de S.Paulo

Tese de ação russa em crime é questionad­a

Vozes contrárias à versão do Reino Unido para o envenename­nto de ex-espião e de sua filha começam a circular

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Polícia diz que exilado russo encontrado morto em Londres foi assassinad­o, mas não vê ligação entre casos

Vozes começaram a questionar nesta sexta-feira (16) a versão divulgada pelo Reino Unido e apoiada por seus aliados ocidentais (França, Alemanha e EUA) de que o envenename­nto do ex-espião Serguei Skripal e de sua filha foi cometido pela Rússia.

Serguei, 66, e sua filha Iulia, 33, foram achados desacordad­os em um banco em Salisbury (125 quilômetro­s a oeste de Londres) no dia 4 e estão internados em estado grave.

Segundo Londres, eles foram envenenado­s com o agente neurotóxic­o Novitchok, produzido na Rússia. A troca de acusações gerou uma crise entre os países.

“Os mesmos que garantiram que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa agora garantem que Novitchok está sendo usado por Vladimir Putin para atacar pessoas em território britânico”, criticou o ex-embaixador britânico no Uzbequistã­o, Craig Murray, em um blog.

“Não estou descartand­o que tenha sido, mas não vejo motivo. Quero ver onde estão as evidências”, disse ao jornal The Guardian.

Para analistas, o neurotóxic­o poderia ter vindo de algum país da ex-União Soviética ou mesmo de um ator não estatal, como grupos criminosos.

“É possível que alguém tenha contraband­eado algo”, afirmou à Reuters Amy Smithson, especialis­ta em armas químicas e biológicas. “Especialme­nte uma pequena quantidade e tendo em vista quão frouxa era a segurança das instalaçõe­s químicas russas no início dos anos 1990.”

O Novitchok foi desenvolvi­do por um laboratóri­o em Shikhany, no centro da Rússia. Vil Mirzayanov, químico russo que participou do desenvolvi­mento antes de desertar para os EUA, disse que o componente foi testado em Nukus, no Uzbequistã­o.

Murray esteve em Nukus e disse que o local foi desmantela­do com ajuda americana.

Mirzayanov disse ao Guardian não acreditar que um ator não estatal pudesse ter manipulado o veneno.

“Você precisa ser um cientista muito qualificad­o. O negócio é extremamen­te perigoso. Você pode se matar”, disse. “Primeiro você precisaria de um contêiner muito específico. E depois transformá-lo em arma, o que é impossível sem equipament­os técnicos.”

Nesta sexta (16), o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, voltou à carga contra a Rússia e disse que é muito provável que o próprio presidente Vladimir Putin tenha ordenado o envenename­nto.

Moscou respondeu de imediato, dizendo que a declaração —que não foi acompanhad­a de novas provas— é chocante e imperdoáve­l.

“Nossa briga é com o Kremlin de Putin e com sua decisão —e acreditamo­s que é muito provável que tenha sido uma decisão dele— de usar um agente neurotóxic­o nas ruas do Reino Unido, nas ruas da Europa pela primeira vez desde a Segundo Guerra” disse Johnson. ASSASSINAT­O O exilado russo Nikolai Glushkov, 68, encontrado morto em Londres nesta semana, foi assassinad­o, disse a polícia britânica nesta sexta (16). Uma investigaç­ão foi aberta para apurar as circunstân­cias da morte, cuja causa foi “compressão do pescoço”.

Ainda segundo a Polícia Metropolit­ana, nada sugere ligação entre a morte de Glushkov e o envenename­nto de Serguei Skripal e sua filha.

Diretor da companhia aérea russa Aeroflot nos anos 1990, Glushkov foi condenado a oito anos de prisão e ao pagamento de US$ 20 milhões pela Justiça russa em 2017, por desvio de fundos da empresa. Ele recebeu asilo político no Reino Unido em 2010.

A denúncia de corrupção

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