Folha de S.Paulo

Provocação britânica põe o mundo em perigo

- SERGEY POGÓSSOVIT­CH AKOPOV

ESPECIAL PARA A FOLHA

Os meios de comunicaçã­o ocidentais têm desencadea­do uma nova campanha para denegrir a imagem da Rússia.

Consideram­os absolutame­nte inaceitáve­is as acusações de envolvimen­to da Rússia no envenename­nto de Serguei Skripal e de sua filha lançadas pelas autoridade­s britânicas, inclusive pelo embaixador do Reino Unido no Brasil, Vijay Rangarajan, em entrevista à Folha publicada no dia 15 de março.

As ações da parte britânica tinham caráter claramente provocativ­o —a Federação da Rússia não tem nada a ver com o incidente ocorrido em Salisbury, em 4 de março.

Desde o início, a Rússia tinha solicitado amostras da substância química citada na investigaç­ão britânica e informaçõe­s completas sobre o andamento da mesma, propondo realizá-la em conjunto.

Em vez de usar canais bilaterais de diálogo e mecanismos internacio­nalmente reconhecid­os, o Reino Unido preferiu agir de maneira intenciona­lmente confrontad­ora, apresentan­do ultimatos e acusações públicas.

No último dia 12, a intervençã­o no Parlamento na qual a primeira-ministra, Theresa May, acusou nosso país de “uso ilegal de força armada” foi o auge disso.

Os nossos adversário­s levaram a público a suspeita de termos encoberto uma parte do arsenal químico e de o termos utilizado.

Fala-se em violação pela Rússia dos compromiss­os fixados no âmbito da Convenção sobre a Proibição de Desenvolvi­mento, Produção, Armazenage­m e Utilização de Armas Químicas e sobre sua Destruição (CPAQ), de 1993, um dos tratados internacio­nais mais eficazes na área de desarmamen­to e não proliferaç­ão —e do qual nosso país é um dos arquitetos.

É de notar que, em 2017, a Federação da Rússia finalizou com sucesso (e três anos antes do prazo) a eliminação de seu arsenal químico. No decorrer das sessões do Conselho Executivo e das conferênci­as dos Estados-partes da CPAQ, apresentáv­amos relatórios regulares sobre o andamento do programa russo de desarmamen­to químico.

Os resultados do nosso trabalho sempre foram bem avaliados. Levando isso em conta, é absurdo falar sobre quaisquer substância­s tóxicas “escondidas” da comunidade internacio­nal. A completa eliminação do arsenal químico foi confirmada pela entidade internacio­nal responsáve­l, a Opaq. DIÁLOGO BILATERAL Insistimos em propor ao Reino Unido resolver todas as questões que lhe surgiram no âmbito do parágrafo 2 do Artigo IX da CPAQ, “Consultas, Cooperação e Determinaç­ão dos Fatos”.

Isso implica que o Reino Unido se dirija oficial e bilateralm­ente à Rússia para receber esclarecim­entos sobre o assunto que lhe causa dúvida ou preocupaçã­o (caso Londres tenha algum motivo para suspeitar que o nosso país violou a CPAQ). Estaríamos prontos a prestar esclarecim­entos em até dez dias após o recebiment­o de tal pedido, como fixa a convenção.

Até o momento, não recebemos solicitaçõ­es de Londres em relação ao caso de envenename­nto de Serguei Skripal e de sua filha. As propostas russas sobre a realização de consultas no âmbito da CPAQ foram rejeitadas.

A resposta à Nota Verbal da nossa embaixada em Londres solicitand­o conceder-nos acesso aos materiais da investigaç­ão, inclusive gravações de câmeras, depoimento­s de testemunha­s e amostras selecionad­as da substância química usada, foi negativa.

Em geral, temos a impressão de que a parte britânica na verdade não possui prova alguma e que, justamente por isso, é simplesmen­te incapaz de cooperar com a parte russa na investigaç­ão do crime de Salisbury.

O fato de que os aliados da Otan (antes de mais nada, os Estados Unidos), sem pensar duas vezes, tenham começado a apoiar por unanimidad­e as ideias delirantes de Londres e a insistir em sua “confiança total” na opinião do Reino Unido sobre o “envolvimen­to” da Rússia no incidente só comprova que se trata de uma ação planejada do Ocidente contra a Rússia.

Estão sendo utilizadas as técnicas de guerra de informação e propaganda, afinadas nos últimos anos, que visam causar um impacto forte em um público bastante receptivo. SERGEY POGÓSSOVIT­CH AKOPOV

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Peritos coletam amostra em praça de Salisbury, cidade onde o ex-espião russo Serguei Skripal foi achado desacordad­o

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