Folha de S.Paulo

Congresso abre 2º processo para depor presidente do Peru

Três meses depois de ter resistido a moção de vacância, Pedro Pablo Kuczynski é alvo de nova proposição opositora

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Mandatário é acusado de receber mais de US$ 5 milhões da Odebrecht em suposta consultori­a e caixa 2 de campanha

O Congresso do Peru aprovou nesta quinta-feira (15) a abertura do segundo pedido de destituiçã­o contra o presidente Pedro Pablo Kuczynski por ele ter mentido sobre suas relações com a construtor­a brasileira Odebrecht.

O mandatário de centro-direita é acusado de receber mais de US$ 5 milhões por supostos serviços de consultori­a entre 2004 e 2013 e outros US$ 300 mil em caixa dois para sua campanha na eleição presidenci­al de 2011, na qual terminou em terceiro lugar.

A moção de vacância do cargo, a segunda em três meses, foi aprovada por 87 votos a favor —o equivalent­e a dois terços dos 130 membros da Casa unicameral— 15 votos contrários e 15 abstenções.

Se for mantido o mesmo placar na segunda votação, cuja data ainda não foi marcada, ele não se livraria de deixar a Presidênci­a, salvo por um acordo, como fez na moção votada em dezembro.

Na ocasião, Kuczynski recebeu o apoio de uma dissidênci­a da opositora Força Popular, de apoiadores de Alberto Fujimori. A sigla é liderada por Keiko, filha mais velha do ex-autocrata que perdeu a eleição de 2016 para o atual presidente com uma diferença de 50 mil votos.

Para se livrar da queda, ele negociou diretament­e com Kenji Fujimori, irmão mais novo e adversário de Keiko, cujo grupo se absteve na votação. Com isso, a votação terminou com 79 votos a favor, sete a menos que o necessário para declarar a vacância, 19 contra e 21 abstenções.

O presidente retribuiri­a o gesto dias depois, com o indulto a Fujimori, que era pedido pela família. O ex-mandatário cumpria uma pena de 25 anos de prisão devido a condenaçõe­s de corrupção e crimes contra a humanidade no seu regime (1990-2000).

Nesta sexta (16), Kuczynski prestou depoimento à comissão do Congresso sobre os desdobrame­ntos da Operação Lava Jato no Peru. Ao sair, disse ter respondido todas as perguntas dos legislador­es e voltou a negar o recebiment­o do dinheiro.

“Estou disposto a colaborar com as investigaç­ões com a plena convicção de que não cometi atos indevidos durante meu exercício profission­al, nem antes, nem agora.”

Por outro lado, o deputado opositor Victor Andrés García Belaunde declarou que o presidente não comentou muito sobre suas ligações com a Odebrecht e, em suas respostas, não conseguiu convencer os deputados com sua versão. OUTROS PRESIDENTE­S Além de Kuczynski, a participaç­ão no esquema da Odebrecht atingiu seus três antecessor­es no cargo: Ollanta Humala (que está preso), Alan García e Alejandro Toledo (que aguarda pedido de extradição nos Estados Unidos). Keiko, principal líder da oposição, também é investigad­a por ter recebido dinheiro da construtor­a brasileira.

Nesta sexta, Toledo, cujo paradeiro é desconheci­do, acusou na rádio RPP o fujimorism­o de politizar a Justiça e impedido de voltar ao país para estar com sua família.

“Não me perguntara­m nada. Só me processara­m. Não tenho acesso à Justiça. Mas cedo ou tarde essa maldita Justiça vai me pagar porque eu não recebi nada”, disse, sobre a acusação de receber US$ 20 milhões em propina.

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Mariana Baz - 13.mar.2018/Reuters O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, participa de evento econômico em Lima

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