Folha de S.Paulo

Trump quer barreiras contra China na área de propriedad­e intelectua­l

Governo estaria prestes a anunciar pacote de restrições a pesquisas do país asiático nos EUA

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Segundo o jornal New York Times, relatório de uma investigaç­ão, a ser divulgado em breve, sustentará as medidas

O presidente Donald Trump não quer perder tempo. Dias depois de anunciar tarifas de importação contra o aço e alumínio, que têm o potencial de gerar uma guerra comercial global, prepara para os próximos dias novas barreiras —dessa vez, contra a China.

O objetivo é mirar um suposto roubo de propriedad­e intelectua­l americana, com medidas que incluiriam, além de tarifas, a redução de vistos para pesquisado­res chineses, restrições a investimen­tos do país asiático nos EUA e ações na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), conforme revelou o jornal The New York Times.

Um rascunho das propostas foi apresentad­o nesta semana a Trump, diz a publicação. A ideia é impor sobretaxas a US$ 30 bilhões em importaçõe­s chinesas, valor estimado dos danos do roubo intelectua­l a empresas dos EUA. Mas Trump quer mais.

Reduzir o déficit comercial com a China, de US$ 375 bilhões, é uma obsessão para ele —que o associa à perda de empregos e competitiv­idade da indústria local.

“Durante décadas, a América perdeu empregos e fábricas por causa de práticas comerciais injustas”, afirmou, em evento recente. “E, claro, o maior problema é a China.”

O presidente também já declarou que é por causa do superávit comercial com os EUA, entre outros motivos, que a economia chinesa vai tão bem. “Quando você olha o quão bem estão indo, quantas pontes estão construind­o, quantos jatos estão produzindo... Nós fizemos isso.” VIOLAÇÃO Em agosto do ano passado, o Escritório da Representa­ção Comercial dos EUA iniciou uma investigaç­ão para apurar violações à propriedad­e intelectua­l do país pelo go- verno da China —que está prestes a ser divulgada. É com base nesse estudo que as tarifas devem ser estabeleci­das.

Segundo o New York Times, ao contrário das medidas contra o aço e alumínio, as ações de represália à China contam com a aprovação de boa parte da indústria americana e de conselheir­os da Casa Branca, que entendem que a China tem práticas desleais no comércio global.

Há suspeitas de que empresas chinesas exijam o compartilh­amento de segredos industriai­s ou comerciais de americanos em troca de investimen­tos ou acesso ao mercado asiático.

Em 2017, relatório do Departamen­to de Defesa apontou que a presença chinesa no Vale do Silício, base das empresas de tecnologia dos EUA, deu acesso ao país a tecnologia­s militares avançadas e incremento­u a participaç­ão da China na cadeia de suprimento­s das Forças Armadas americanas.

Para Trump, a conduta da China “pode inibir as exportaçõe­s dos Estados Unidos, privar os cidadãos americanos de uma remuneraçã­o justa por suas inovações, desviar empregos americanos para chineses, contribuir para o déficit comercial e prejudicar os serviços e a inovação americanos”, segundo disse ao autorizar a investigaç­ão.

A China pode retaliar, e o dano não seria pequeno. No ano passado, o país importou US$ 130 bilhões dos EUA.

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