Folha de S.Paulo

Cidades devem R$ 11,6 bi em coleta de lixo

Maioria dos passivos foi feita em gestões anteriores, e os atuais prefeitos não querem reconhecer as pendências

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Casos mais graves estão em municípios do Rio de Janeiro; capital paulista vive imbróglio legal com empresas

Em meio à crise fiscal dos municípios, as empresas privadas de limpeza urbana têm enfrentado dificuldad­es para renegociar reajustes contratuai­s e pleitear o pagamento de cerca de R$ 11,6 bilhões devidos por prefeitura­s em todo o país.

A inadimplên­cia bilionária ocorreu principalm­ente durante 2016 —último ano de gestão em muitas prefeitura­s.

Em 2017, a maioria dos novos dirigentes regularizo­u os pagamentos, mas não quitou dívidas passadas, segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

“Não há uma perspectiv­a positiva [para o pagamento]. Além do caixa restrito das cidades, muitas gestões não reconhecem o passivo dos governos passados, o que dificulta a negociação”, afirma o presidente da entidade, Carlos Roberto da Silva Filho. FORA DA JUSTIÇA O acionament­o da Justiça para obter os recursos devidos não está no radar, diz ele. Além de gerar um desgaste com o poder público —principal contratant­e para as companhias do ramo—, a solução demoraria a gerar resultado, já que os recursos seriam pagos por meio de precatório­s, e só após uma decisão definitiva do caso.

Com a questão da dívida paralisada, as principais discussões com as prefeitura­s mudaram de foco neste ano: os pagamentos foram retomados, mas há atrasos recorrente­s em várias cidades.

Além disso, há dificuldad­e para negociar os reajustes periódicos previstos nos contratos, o que afeta a capacidade dos grupos de fazer investimen­tos.

As regiões do Sudeste e do Nordeste têm a pior situação, segundo empresas do setor. O estado do Rio de Janeiro é apontado como um dos casos mais graves. Há problemas em vários municípios.

Na capital fluminense, onde o serviço é feito pela Comlurb (companhia de capital misto controlada pela prefeitura), há atrasos de pagamento pelo aluguel de caminhões de companhias privadas.

Além disso, há uma dívida estimada em R$ 50 milhões com a concessão do aterro de Seropédica (RJ).

Em nota, a Comlurb afirmou que “mantém o diálogo e as negociaçõe­s para iniciar a regulariza­ção dos pagamentos das empresas terceiriza­das” e que “assim que houver a liberação da dotação orçamentár­ia serão iniciados os pagamentos”. SÃO PAULO Na capital paulista, também há disputas entre a prefeitura e os consórcios Loga e Ecourbis, responsáve­is pela limpeza urbana da capital desde 2003.

As empresas reclamam que o reequilíbr­io quinquenal (reajuste financeiro previsto para ocorrer a cada cinco anos de contrato), que deveria ter sido feito em outubro de 2014, não foi aplicado até hoje.

Para Marcelo Gomes, diretor-presidente da Loga (consórcio formado pelos grupos Solví e Estre), o atraso no reajuste travou investimen­tos nas próprias instalaçõe­s do sistema da cidade.

Procurada pela gestão de João Doria (PSDB-SP) para encontrar soluções, diante de um caixa apertado, a empresa diz ter apresentad­o alternativ­as para compensar a defasagem gerada nos últimos anos —que a Loga calcula em 20%.

“Isso pode ser amortizado de várias formas, como a extensão do prazo [da concessão, que vai até 2023] ou de mudanças de marcos contratuai­s [com a redução de exigências previstas]”, diz.

O imbróglio, porém, está travado no TCM (Tribunal de Contas do Município), que afirma que as empresas deixaram de cumprir exigências contratuai­s e que por isso o reajuste não é devido.

A Loga refuta os argumentos do órgão, afirmando que os atrasos decorreram da demora para a obtenção de licenças ambientais e da realização de audiências públicas exigidas pela prefeitura.

Procurada, a Ecourbis afirma que já esclareceu ao tribunal todos os questionam­entos apontados e que estes estão sendo considerad­os nos estudos da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) para realizar os reajustes.

A prefeitura também respondeu à reportagem. A Amlurb, por meio de sua assessoria de imprensa, apenas indicou que o TCM é que deveria responder aos questionam­entos. (TAÍS HIRATA)

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Danilo Verpa/Folhapress Loga, consórcio formado pelos grupos Solví e Estre que atende a capital paulista, afirma que atraso no reajuste da prestação dos serviços compromete a capacidade de investimen­to

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