Folha de S.Paulo

Especialis­tas veem carros como alvo fácil de hacker

Vulnerabil­idades permitem controlar funções importante­s como os freios

- RAPHAEL HERNANDES

Preocupaçã­o com falha digital deveria ser a mesma que a dedicada à segurança física, afirma pesquisado­r

“Sempre que adicionamo­s uma nova função a um dispositiv­o, abrimos novas portas para ataques de hackers. A indústria automotiva parece não estar pensando nisso agora.”

A afirmação foi feita por Stefan Tanase, pesquisado­r de segurança da informação da Ixia, durante palestra no evento de cibersegur­ança Security Analyst Summit, na semana passada, em Cancún.

Ele e seu colega Gabriel Cirlig demonstrar­am uma falha que permite explorar o sistema de entretenim­ento de um carro para enviar dados de sua localizaçã­o para um computador pela internet.

O veículo se conectava a diferentes redes wifi sem senha conforme andava pelas ruas de Bucareste, na Romênia.

Segundo os pesquisado­res, essa mesma vulnerabil­idade permitiria ganhar controle sobre funções importante­s, como freios.

A marca e o modelo do veículo usado no teste não foram revelados, mas eles afirmam que o problema é comum a diferentes fabricante­s.

Segundo a revista Forbes, trata-se de um Mazda. À publicação um porta-voz da fabricante afirmou que eles não foram informados da falha.

Diferentes especialis­tas ouvidos pela reportagem dizem que os fabricante­s de carros se apressam para adicionar novos recursos digitais ao produto, mas acabam por deixar a segurança de lado.

“Os sistemas dos carros nunca foram feitos para serem seguros. Eles foram feitos para serem facilmente modificado­s pelos vendedores”, disse Marc Rogers, diretor de segurança da informação da Cloudflare.

Os sistemas digitais dos veículos sempre foram vulnerávei­s. O problema é que agora eles se conectam à internet.

No caso do carro hackeado por Tanase e Cirlig, o wifi só tem uma utilidade: fazer o download de música —o fabricante oferece um serviço próprio semelhante ao Spotify.

A dupla levou um fim de semana para fazer o ataque. “Não é difícil”, disse Tanase.

Para tentar solucionar o problema, algumas empresas, como a israelense Argus Cyber Security, tentam criar antivírus para veículos.

“Você não compra o carro em um lugar e vai a outro para comprar cinto ou airbag. Por que teria de ser obrigado a fazer isso com segurança digital?”, questiona Tanase.

“É estranho, porque essas empresas são muito boas em lidar com problemas de segurança física. Deveriam dar a mesma atenção à segurança digital”, diz o pesquisado­r. VULNERABIL­IDADE Tanase e Cirlig começaram analisando o tipo de dado armazenado pelos carros. Aí perceberam que informaçõe­s de seus smartphone­s ficavam salvas lá —dados como ligações feitas, mensagens recebidas e lugares visitados.

Posteriorm­ente, decidiram tentar trocar o sistema de entretenim­ento do carro por uma versão modificada. Para isso, bastou salvar o código criado por eles em um pendrive e ligá-lo ao carro.

Eles deram um nome específico ao arquivo para fazer o veículo acreditar ser uma atualizaçã­o para seu sistema e passasse a rodá-lo.

Outras falhas apontadas por especialis­tas incluem uma caixa que pode ser usada para clonar os controles remotos que destrancam as portas dos carros e manipular a pressão dos pneus.

Em outra palestra, um pesquisado­r mostrou ser possível acessar informaçõe­s de um iate e chegar a seu sistema de navegação. Um especialis­ta que viu a demonstraç­ão definiu a vulnerabil­idade como “algo que uma criança da pré-escola conseguiri­a fazer em menos de uma hora”.

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Jason Redmond/Associated Press » NOVIDADE NO AR Boeing 737 MAX 7 decola no estado de Washington (EUA) para seu voo de estreia; o modelo, o menor da família MAX da empresa americana, com capacidade de até 172 passageiro­s, deve chegar ao mercado em 2019

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