Folha de S.Paulo

Mesmo mulheres jovens acabam reproduzin­do e fortalecen­do modelos tradiciona­is de sexualidad­e

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TENHO CONSTATADO, ao entrevista­r algumas jovens universitá­rias, uma curiosa ambiguidad­e: apesar de defenderem a liberdade sexual das mulheres, elas reproduzem e fortalecem, com seus comportame­ntos, modelos femininos mais tradiciona­is.

Uma estudante de ciências sociais, de 20 anos, contou:

“Deixei de ser virgem aos 15 anos e já tive muitos namorados. Quando perguntam com quantos caras transei, respondo: três. Li em uma revista que uma mulher de mais de 30 anos deve ter tido, em média, sete parceiros sexuais. Como não cheguei lá, acho que três está de bom tamanho. Se eu falar a verdade, nenhum menino vai querer namorar

“Não falo nem para as minhas melhores amigas, pois elas têm namorados firmes e só transaram com ele ou, no máximo, com dois caras. Se eu disser que já transei com mais de dez, elas vão me xingar de vaca, puta, piranha, piriguete”.

Já uma aluna de psicologia, de 23 anos, tem vergonha de ser virgem.

“Morro de vergonha de contar que sou virgem. Ninguém da faculdade sabe. Vão achar que não sou normal, e que nenhum rapaz vai ter a coragem de namorar comigo. Por mais antiquado que possa ser, eu quero perder a minha virgindade com alguém que eu ame e com quem transar com o primeiro cara que aparecer só para tirar o estigma de ser virgem. Já disseram que tenho sérios problemas psicológic­os. Fui xingada de neurótica, histérica, reprimida e louca por uma delas. Mas eu não quero transar com qualquer um só para provar que eu sou normal.”

As duas, por motivos opostos, sofrem dos normais, sem saberem exatamente o que isso significa.

Não está mais do que na hora dessas jovens descobrire­m que, quando o assunto é sexo, ninguém é normal? MIRIAN GOLDENBERG miriangold­enberg@uol.com.br

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