Folha de S.Paulo

Artista expõe seres imaginário­s em madeira

Cícero Alves dos Santos, o Véio, 70, mostra parte da sua coleção de objetos do sertão que caíram em desuso

- ISABELLA MENON AVALIAÇÃO

Itaú Cultural expõe até 13 de maio 270 obras do sergipano em três andares do instituto, na avenida Paulista

Véio é o apelido de Cícero Alves dos Santos, 70, artista tema de exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. Nascido na cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, o artista quando criança gostava de ouvir as histórias dos idosos, e daí foi que surgiu seu apelido.

“Gostava de ouvir as histórias deles sobre lobisomem e coisas deste tipo”, relembra. Ainda na infância, surgiu o interesse que permeia a carreira do artista: esculpir.

Ele costumava fazer o trabalho em cera de abelha, mas naquela época o material era associado a mulheres. Véio fazia tudo escondido e desfazia quando alguém chegava perto.

Para driblar esse obstáculo de gênero passou a usar madeira para esculpir personagen­s místicos. Parte delas está entre as 270 esculturas expostas em três andares.

Em entrevista à Folha ,o artista conta que seu trabalho é mal compreendi­do na sua cidade natal e que é rotulado de “louco” porque suas obras remetem a seres imaginário­s. “Não faço meu trabalho para agradar ninguém, faço para mim, e, se eu gostar, já fico satisfeito.”

As obras expostas no Itaú Cultural demonstram seres com cabeças muito maiores que o corpo ou outros com formas alongadas. Isso surgiu de uma vontade de Véio de instigar os espectador­es.

“Não me interessa esculpir um cachorro ou um cavalo. Eu passei a fazer coisas da minha inspiração para despertar a curiosidad­e dos outros, para que eles tentem entender o que é aquilo que eu estou fazendo”, diz o artista.

Carlos Augusto Calil, curacomo dor da exposição, define Véio como um artista moralista. “Ele tem princípios bastante definidos com que julga as pessoas e a sociedade, como o materialis­mo e a perda de valores espirituai­s”, explica.

As críticas direcionad­as ao sergipano também inspiram seus trabalhos, como uma escultura de um homem com a cabeça desproporc­ionalmente maior ao corpo e sem olhos.

Segundo o artista, essa obra mostra como uma pessoa pode ter inteligênc­ia e “ser formada em tudo”, mas ao mesmo tempo, “não enxergar nada”.

O artista conta que prefere as obras não pintadas, pois mostram a cor natural da madeira. Mas, para agradar e chamar atenção das pessoas, costuma pintar a maioria delas.

Até as que causam impactos pelo tamanho, cor e forma, na seção “O Cão Meu Inferno”, em que mostra os demônios, que segundo Véio, são as figuras que aparecem nos seus pesadelos.

O artista apresenta ainda parte do acervo de objetos reunidos ao longa da vida e que contam a história do sertão.

Entre elas estão peças que remetem ao trabalho, lazer e vida em sociedade que caíram em desuso, a exemplo o carro de boi e a moenda. Alguns desses objetos estão expostos no terceiro andar, chamado de “Museu do Sertão”.

O acervo inteiro de Véio, com quase 17 mil esculturas, está localizado no sítio Soarte, entre a cidade que ele nasceu, Nossa Senhora da Glória, com 36.613 habitantes, e Feira Nova, com 5.616 pessoas. QUANDO em cartaz até 13/5, de ter. a sex., das 9h às 20h ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1777 QUANTO grátis

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Divulgação Obra do artista plástico Cícero Alves dos Santos; parte de seu acervo está no Itaú Cultural

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