Folha de S.Paulo

Guerra dos EUA

-

O Brasil vive um momento de grande perplexida­de agravado pela disfuncion­alidade do seu sistema político, pelo excesso de judicializ­ação dos atos administra­tivos e pela visível politizaçã­o da Justiça num ambiente de brutalidad­e social. Ela atingiu o seu paroxismo com o trágico assassinat­o que indignou mesmo os que já haviam naturaliza­do a barbárie do Rio de Janeiro.

A situação fiscal continua muito difícil, mas o “ambiente” econômico melhora paulatinam­ente. Temer talvez termine o seu mandato tendo superado a recessão e iniciado a recuperaçã­o do emprego com um cresciment­o cíclico entre 2,5% e 3,0% e uma taxa de inflação de 4%.

Deixará, também, importante­s medidas (a reforma trabalhist­a em particular) que deverão elevar a produtivid­ade do trabalho nos próximos anos. Infelizmen­te, não conseguiu aprovar a reforma da Previdênci­a, sem a qual o Brasil caminhará para o caos.

É preciso reconhecer que é o aumento dos gastos com salários e aposentado­rias que reduz cada vez mais a imprescind­ível transferên­cia direta de renda aos menos favorecido­s na forma de melhores serviços de segurança, de saúde, de educação, de saneamento e mobilidade urbana, que se processam por meio dos gastos do governo.

O primeiro bimestre deste ano revelou uma importante melhoria da arrecadaçã­o fiscal. Há esperança que mesmo com a confusão política o Tesouro terá mais fôlego e criará as condições para um ano fiscal menos agitado. Até recentemen­te, as perspectiv­as externas também pareciam tranquilas e estimulant­es para a economia nacional.

Esse quadro benigno foi violentame­nte perturbado pela decisão do presidente Trump de deslanchar uma ofensiva econômica contra a China por causa de suas práticas comerciais e pela conhecida apropriaçã­o indébita de propriedad­e intelectua­l. Espera-se um aumento das restrições ao investimen­to chinês nos EUA e o endurecime­nto no intercâmbi­o entre os dois países.

As exigências chinesas para aceitar os investimen­tos estrangeir­os (clara transparên­cia de segredos tecnológic­os e comerciais e obrigação de parceria com empresas nacionais) sempre incomodara­m os EUA. Não foram resolvidas diplomatic­amente na OMC, que também se tornou alvo do voluntaris­mo irracional de Trump.

Parece que o plano “Made in China 2025” (em que se acentua o desejo de autonomia da economia da China) foi a gota de água que colocou em marcha a fúria americana. Ela pode perturbar fortemente o comércio mundial e atingir os interesses de nossa economia e o emprego dos brasileiro­s.

Nesse quadro perturbado­r, a pior solução é retaliar com irracional­idade. Precisamos de sangue frio, paciência e inteligênc­ia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil