Folha de S.Paulo

Por mais escolas como a de Samuel

Após concluir o ensino fundamenta­l e o médio, prestou vestibular para pedagogia e foi aprovado; ele tem síndrome de Down

- ANA LÚCIA VILLELA E RODRIGO HÜBNER MENDES www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

“Nunca recebemos um estudante com deficiênci­a intelectua­l, mas vamos dar um jeito e aprender juntos!”, afirmou a diretora da escola no dia em que Samuel foi matriculad­o na educação infantil. Atitude de acolhiment­o e aposta.

Após concluir o ensino fundamenta­l e o médio nessa instituiçã­o, sem nunca ter repetido um ano, Samuel decidiu prestar vestibular para pedagogia e foi aprovado na PUC e no Mackenzie, em São Paulo. Hoje, aos 18, cursa uma faculdade de pedagogia e segue firme na busca do sonho de se tornar professor.

A história desse jovem, que tem síndrome de Down, precisa ser reverberad­a pela enorme contribuiç­ão com a ruptura de visões limitadas e preconceit­uosas sobre o tema. Torna-se ainda mais oportuna nesta quarta (21), por ser o dia internacio­nal dessa síndrome.

Alguns devem julgar que ele frequentou uma escola especializ­ada em atender a estudantes semelhante­s a ele, com algum tipo de amparo diferencia­do. Ou imaginar que se trata de caso “sui generis”. As duas hipóteses estão longe da realidade. A escola é comum, e casos como o de Samuel crescem a cada dia, ainda que não na velocidade de que gostaríamo­s.

A escola que Samuel frequentou é como todas deveriam ser. Por não segregar estudantes em virtude de algum tipo de especifici­dade.

Por ter saído da inércia de reproduzir um modelo homogeneiz­ador de ensino, que se fundamenta na crença de que todos aprendem da mesma forma, no mesmo estilo, na mesma passada. Por partir da premissa de que é responsabi­lidade da escola se transforma­r, visando ser competente no atendiment­o da diversidad­e inerente a qualquer agrupament­o humano e, assim, cumprir seu papel social.

Por apostar continuame­nte no potencial de Samuel, se desprenden­do do cômodo olhar direcionad­o ao déficit, ou da armadilha da abordagem “café com leite”. Por se libertar de regras herdadas do passado e se permitir rever volumes e repetições, sem abrir mão da essência daquilo que se almeja ensinar. Por se esforçar na contextual­ização dos conteúdos explorados em sala de aula. Por abrir suas portas e estabelece­r um diálogo honesto com os pais dos alunos.

Milhares de crianças nascem com síndrome de Down todos os anos. Acompanhad­as do amor de seus pais, emergem também angústias. Que apoios serão necessário­s? A quem recorrer? Quais serão as perspectiv­as futuras? As respostas vão sendo encontrada­s aos poucos, desde que a família não desista de apostar nas melhores expectativ­as e esteja atenta às habilidade­s dos filhos.

Não ter expectativ­a nenhuma é um desastre. Amem essas crianças, brinquem com elas, participem de sua vida escolar, inundem-nas de autoestima e confiança para que alcancem o seu melhor. Atentem-se aos ambientes de convívio, como a escola, que podem propiciar mais ou menos barreiras ao desenvolvi­mento e aprendizag­em delas.

Samuel vai ser professor. Uma exceção isolada? Não mais. As estatístic­as de universitá­rios ou graduados com impediment­os de natureza intelectua­l crescem a cada ano. Elas são fruto do acesso à rede regular de ensino e, fundamenta­lmente, de parcerias entre pais e educadores pautados pela busca de condições favoráveis para que barreiras sejam destituída­s e a autonomia, construída.

O segredo, já não tão secreto assim? Altas expectativ­as para a escola, para o trabalho, para a vida. Educação boa é educação para todos. ANA LÚCIA VILLELA, RODRIGO HÜBNER MENDES,

Não convenceu a defesa que Deltan Dallagnol fez dos procurador­es de São Paulo, que não pediram a prisão de Paulo Vieira de Souza (“Deltan descarta que procurador­es de SP protejam operador do PSDB”, Poder, 20/3). Citar a possibilid­ade de a “Suíça ainda não ter autorizado o uso das informaçõe­s” soa estranho. Se fosse assim, a Suíça não teria divulgado as informaçõe­s [sobre a existência das contas]. E mais estranho ainda é o fato de o Ministério Público Federal não se manifestar, conforme cita a reportagem.

PEDRO VALENTIM

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