Folha de S.Paulo

Jogada de mestre?

- ELIO GASPARI

MICHEL TEMER classifico­u sua decisão de intervir na segurança do Rio como uma “jogada de mestre”. Jogada foi. De mestre, nem pensar. Foi um lance improvisad­o, irresponsá­vel na origem e perigoso no seu desdobrame­nto.

O governo embrulhou a intervençã­o federal, um ato da administra­ção civil, no verde-oliva das fardas do Exército, quando uma coisa pouco tem a ver com a outra. O resultado da improvisaç­ão apareceu quando divulgou-se que a equipe do general Walter Braga Netto estima que são necessário­s R$ 3,1 bilhões para reequilibr­ar o orçamento da máquina de segurança do Rio e o governo acena com R$ 1 bilhão.

Deixando-se de lado a questão das cifras, a cena resulta na colocação do general no papel de administra­dor discutindo recursos para o desempenho de sua missão. Ganha um fim de semana em Bagdá quem souber de outro caso de general a quem o governo deu uma tarefa, disponívei­s. de fevereiro que deflagrou a intervençã­o mostram a barafunda da jogada. Falou-se em mandados de busca, apreensão e capturas coletivos. Em poucas horas suprimiuse o “capturas”. Em poucos dias congelou-se a própria ideia. Seguiuse a proposta de criação de um fundo estatal alimentado por doações privadas. Durante oito anos as verbas públicas de segurança foram administra­das por Sérgio Cabral. Depois dele, veio Luiz Fernando Pezão. execução da vereadora Marielle Franco, libertando demônios que estão dentro da garrafa da sociedade brasileira. A desembarga­dora Marília Castro Neves disse que “a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’, ela estava engajada com bandidos. Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromiss­os’ assumidos com seus apoiadores”. Agora a doutora diz que se expressou “de forma precipitad­a”. matado porque tinha problemas psicológic­os. Afinal, fizera psicanális­e. Se isso fosse pouco, era judeu. Durante o depoimento de sua mãe, tentaram enfiar uma frase, segundo a qual ela “sentiu vontade de suicidar-se também”.

Nas manifestaç­ões que saudaram a deposição de João Goulart em 1964, havia jovens que anos depois militariam em organizaçõ­es armadas de esquerda. Em 1984, no arco político que elegeu Tancredo Neves, havia maganos e políticos que financiara­m e defenderam a tortura. Os demônios das garrafas são sempre demônios.

A “jogada de mestre” de Temer jogou 1954, passaram-se apenas 37 dias entre o atentado contra Carlos Lacerda, durante o qual morreu o major Rubens Vaz e a prisão do contratado­r do crime, Climério Euribes de Almeida. Quem o capturou foi o major Délio Jardim de Mattos, que mais tarde chegaria a ministro da Aeronáutic­a.

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