Temer afirma que disputar reeleição ‘não é improvável’
Com baixa popularidade, presidente ressalta que decisão não está tomada
Amigos aconselharam emedebista a se colocar para assumir a defesa deseulegadoehonra, apesar da má avaliação FOLHA
O presidente Michel Temer admitiu publicamente nesta terça-feira (20) que cogita se lançar à reeleição neste ano. Ele afirmou que ainda não to- mou uma decisão sobre o assunto, mas disse que sua candidatura “não é improvável”.
Embora tímido, este é o comentário mais enfático feito pelo presidente até agora sobre seu desejo de concorrer às eleições de outubro. Com baixíssima popularidade, ele vinha se esquivando de per- guntas sobre o tema.
“Não é improvável, mas não decidi ainda”, disse Temer, ao fim de um almoço em homenagem ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
A declaração, considerada a mais assertiva sobre sua possível candidatura, foi dada depois que o presidente se consultou com um grupo de amigos, durante jantar na sexta (16), em São Paulo.
Segundo apurou a Folha, Temer discutiu abertamente o assunto e ouviu que era melhor se colocar na disputa — mesmo diante dos números negativos de avaliação do seu governo— para assumir a defesa de seu legado e honra.
Os conselheiros do presidente acreditam que ele ficará isolado, inclusive na costura de alianças com partidos aliados, caso não se lance como candidato.
Nesta terça, o presidente ecoou o discurso encorajador de seus amigos, mas ponderou que “o tempo dirá” o momento dessa definição.
Acrescentou que o limite para bater o martelo é o prazo estabelecido por lei para o registro de candidaturas, em 15 de agosto.
No Palácio do Planalto, a tese é a de há um componente emocional que o motiva a concorrer à reeleição —a defesa de sua honra— mas o martelo deve ser batido somente em meados de junho.
A colocação pública de Temer no jogo eleitoral, ainda que sob indefinição, restringe o espaço do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que pretendia concorrer ao Planalto pelo MDB, partido do presidente.
Se quiser disputar as eleições de outubro, Meirelles precisa deixar o governo e se filiar à sigla até 7 de abril.
Temer disse que vai conversar com o chefe de sua equipe econômica sobre o tema nos próximos dias. “Vou verificar ainda. Tudo isso ainda vai ser objeto de conversações, conversas com o Meirelles, inclusive, que é uma grande figura”, afirmou.
Aliados do ministro da Fazenda receberam as declarações do presidente Temer com desânimo.
Em encontro dos ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G-20, na Argentina, Meirelles disse a assessores que vai aguardar ser chamado por Temer e que, depois da conversa, decide se sairá ou não do ministério.
O termômetro hoje, dizem auxiliares, é que o ministro deixe a Fazenda, se filie ao MDB e torça para que o presidente perceba que talvez não seja boa ideia ser candidato com uma popularidade tão baixa e dois inquéritos correndo contra ele no Supremo Tribunal Federal.
Temer hesitava em enfrentar uma eleição por considerar que sua impopularidade inviabilizaria seu nome na disputa, mas mudou de ideia. Agora acredita que poderá usar a campanha para se defender de acusações de corrupção e dar publicidade a realizações de seu governo.
Nas últimas semanas, Temer fez movimentos mais concretos que desencorajaram Meirelles. Admitiu a aliados que cogita essa candidatura e pediu que fossem analisados os custos de uma possível campanha.
Partidos da base governista ainda tratam a hipótese com ceticismo. Acreditam que Temer se coloca em jogo para ampliar seu poder de influência na eleição, mas, no limite do prazo, desistirá da empreitada para apoiar outro candidato.