Folha de S.Paulo

Brasil e Colômbia manifestar­am interesse em ações de inteligênc­ia conjuntas contra o crime organizado e o narcotráfi­co.

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O êxodo decorrente da grave crise econômica e social na Venezuela perturba os países vizinhos, afirmou nesta terça (20) o presidente Michel Temer após se reunir com o homólogo colombiano, Juan Manuel Santos, em Brasília.

Os dois reiteraram o pedido para que Caracas aceite a oferta de ajuda humanitári­a feita pelos governos da região e criticaram o regime de Nicolás Maduro, mas evitaram citar o venezuelan­o.

“Queremos a pacificaçã­o política na Venezuela, a democracia plena nas eleições e a não agressão aos que se opõem ao regime ora lá constituíd­o”, disse Temer.

A Venezuela deve ter eleições presidenci­ais em maio, após Maduro antecipar o pleito previsto para o fim do ano. Boa parte da oposição, porém, está impedida de concorrer e pede que governos vizinhos ajudem a negociar uma saída para a crise.

“Temos uma relação de Estado para Estado, o que não significa que nós patrocine- mos o que está acontecend­o na Venezuela sob o foco político”, afirmou Temer.

O presidente acrescento­u também que “este êxodo venezuelan­o para o Brasil e para a Colômbia perturba os países da América Latina”.

Na véspera, um abrigo de venezuelan­os em Mucajaí (Roraima) foi alvo de ataque após uma briga de imigrantes com moradores locais (leia abaixo).

O Brasil recebeu menos venezuelan­os do que a Colômbia. Mas só em Boa Vista estão concentrad­os cerca de 40 mil deles —planos de interioriz­ação estão em curso. A Colômbia, principal destino dos migrantes, recebeu meio milhão.

“Concordamo­s [Brasil e Colômbia] em trocar experiênci­as para ajudar os venezuelan­os que fogem da crise e buscar a melhor forma de lidar com essa situação inédita”, afirmou Santos.

O colombiano voltou a criticar o veto à entrada de ajuda humanitári­a por Caracas, que alega não haver crise.

“Fazemos um chamado ao presidente Maduro para que aceite a ajuda humanitári­a que vários países, como Brasil e Colômbia, têm oferecido. Não entendemos como recusam com a crise humanitári­a que se agrava dia após dia.” ACORDOS Os ministros da Defesa Nacional da Colômbia, Luis Carlos Villegas, e o de Segurança Pública do Brasil, Raul Jungmann, participar­am do encontro no Planalto.

Os dois países firmaram três acordos nesta terça: um memorando de entendimen­tos voltado a pequenas e microempre­sas, outro ato para aplicar certificad­os digitais de origem para ampliar o comércio bilateral e um terceiro sobre agricultur­a familiar.

O último tema é considerad­o um dos passos para a consolidaç­ão do acordo de paz firmado pelo governo de Santos com as Farc (a ex-guerrilha Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia, hoje o partido Força Alternativ­a Revolucion­ária do Comum).

O colombiano conclui o segundo mandato em julho e pretende deixar como legado o acordo de paz, que lhe rendeu o Nobel da Paz de 2016, mas cuja implementa­ção encontra obstáculos.

Segundo Temer, os dois presidente­s também deram sinal verde para a negociação na área de compras governamen­tais, parte ainda não coberta por tratados de comércio de bens entre o país e o Mercosul —97% do intercâmbi­o bilateral é coberto.

Temer defendeu ainda um acordo comercial entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, bloco que a Colômbia integra com México, Peru e Chile.

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Evaristo Sá/AFP O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, observa cumpriment­os em assinatura de acordos em visita a Brasília

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