Folha de S.Paulo

Brasileiro­s atacam abrigo de venezuelan­os em Roraima

Imigrantes tiveram bens queimados; estopim teria sido briga

- FABIANO MAISONNAVE

Em reação a uma briga entre venezuelan­os e brasileiro­s que deixou dois mortos, dezenas de moradores de Mucajaí (a 57 km de Boa Vista) expulsaram imigrantes de um abrigo e em seguida queimaram os seus pertences.

O ataque aconteceu na tarde de segunda-feira (19).

Assustados, alguns venezuelan­os fugiram de ônibus para Manaus, enquanto outros voltaram ao abrigo por falta de opção, segundo a irmã Telma Lage, coordenado­ra do Centro de Migrações e Direitos Humanos da Diocese de Roraima.

“O pouco que eles tinham foi queimado”, diz Lage. “E o que é mais preocupant­e é que a gente percebe uma onda de levantes nesse sentido. Há informação não confirmada de que estão marcando outras manifestaç­ões desse tipo.”

Segundo relatos da imprensa local, um brasileiro e um venezuelan­o morreram durante uma briga, na madrugada do domingo (18). Outro venezuelan­o FOI preso.

O clima na cidade é de muita inseguranç­a”, afirma a religiosa. “Estamos falhando naquilo que eles buscam em nós, que é a proteção.”

Roraima é a porta de entrada de dezenas de milhares de venezuelan­os que fogem da crise econômica provocada pelo ditador Nicolás Maduro. Ao menos 40 mil vivem em Boa Vista (RR), segundo a prefeitura. A população da cidade é de 330 mil pessoas.

Apesar do estrangula­mento dos sistemas de saúde e de assistênci­a social em Roraima por causa da imigração, o Brasil é um dos países da região que menos recebem venezuelan­os, atrás de destinos como Panamá e República Dominicana. Na Colômbia, principal destino, estão quase meio milhão.

Após visita recente a Boa Vista, o presidente Michel Temer (MDB) anunciou que iria transferir venezuelan­os a ou- tras regiões do país, o que não aconteceu até agora. O destino seria determinad­o de acordo com a vontade dos imigrantes.

No início de fevereiro, foram registrado­s dois ataques a venezuelan­os em Boa Vista. Em ambos os casos, um imigrante da Guiana ateou fogo a locais onde famílias venezuelan­as dormiam. Da segunda vez, um casal e a filha foram feridos —a menina, de quatro anos, teve queimadura­s em 25% do corpo.

Após os episódios, o governo aumentou o efetivo militar na fronteira e declarou emergência no estado.

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Eraldo Peres-8.mar.18/Associated Press Crianças e mulheres venezuelan­as esperam para receber comida em abrigo em Boa Vista

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