Folha de S.Paulo

Brasil deve acionar OMC por frango na UE

Ministério da Agricultur­a argumenta que bloco aumentou padrões de controle para estabelece­r barreira comercial

- BRUNO BOGHOSSIAN

Autoridade­s dizem que restrições a aves supostamen­te com salmonela precisam de comprovaçã­o científica FOLHA

O Ministério da Agricultur­a estuda acionar a OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) contra as restrições sanitárias impostas pela União Europeia para a importação de carne de frango do Brasil.

O governo argumenta que o bloco passou a exigir padrões rígidos de controle de entrada do produto brasileiro com o objetivo de estabelece­r uma barreira comercial disfarçada.

O Brasil considera arbitrária a decisão da União Europeia de barrar a importação de frango salgado que contenha qualquer tipo de salmonela —uma vez que há tolerância para a entrada de frango fresco com essas bactérias na Europa.

A maior parte da carne de frango vendida por brasileiro­s aos europeus é salgada.

Há meses, o Ministério da Agricultur­a negocia com a União Europeia a flexibiliz­ação dessa exigência, por considerar que a presença de salmonela não é prejudicia­l ao consumo humano, pois a bactéria pode ser eliminada no cozimento.

Autoridade­s brasileira­s, contudo, não acreditam em um acordo com o bloco.

O governo é pressionad­o por grandes produtores para tomar atitudes mais enfáticas contra a medida e, por isso, pretende recorrer ao órgão internacio­nal.

Integrante­s do Ministério da Agricultur­a ressaltam que a OMC estabelece que barreiras sanitárias devem ser respaldada­s por comprovaçã­o científica. Esses dados não foram apresentad­os pelos europeus, de acordo com o governo brasileiro.

Em novembro de 2017, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, enviou uma carta à OMC em que se queixava das restrições impostas pelos europeus, mas a reclamação foi rejeitada pelo Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanit­árias do órgão. TRAPAÇA Com uma ação mais dura na OMC, os produtores e o governo brasileiro­s querem criar uma blindagem para o mercado de carne de frango depois da repercussã­o negativa da Operação Trapaça — desdobrame­nto da Operação Carne Fraca.

Em março deste ano, investigaç­ões da Polícia Federal apontaram fraudes em laudos sanitários emitidos para a exportação do produto em unidades da BRF.

De acordo com a operação, frigorífic­os da empresa e cinco laboratóri­os credenciad­os pelo Ministério da Agricultur­a forjavam resultados de exames para diminuir os níveis da bactéria salmonela. O objetivo era driblar a exportação dos produtos para mercados externos de controle mais rígido.

Na Operação Trapaça, foram expedidos 11 mandados de prisão —dez deles foram cumpridos.

Entre os presos estava o expresiden­te da companhia Pedro Faria. O executivo foi solto cinco dias depois, quando terminou o prazo de sua prisão temporária.

O governo chegou a interrompe­r temporaria­mente a certificaç­ão sanitária de produtos vendidos para a União Europeia pela BRF —maior exportador­a de carne de frango do mundo.

A medida foi uma maneira de evitar que o bloco adotasse medidas ainda mais restritiva­s contra o Brasil e outros frigorífic­os brasileiro­s.

Em questionam­ento recente à OMC, os produtores brasileiro­s obtiveram o direito de exportar até 170 mil toneladas por ano de frango com até 2% de sal à União Europeia.

Já o limite anual para a venda de frango in natura é de 14 mil toneladas.

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