Folha de S.Paulo

Podem estar envolvidos [no assassinat­o de Marielle Franco] todos os grupos ameaçados pela intervençã­o [federal na segurança do Rio]: policiais corruptos e violadores de direitos, milicianos e até facções

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Folha - Quais hipóteses a sra. levanta para o assassinat­o de Marielle Franco?

Alba Zaluar - Ela irritava muito os militares na linha do [deputado federal Jair] Bolsonaro [PSL-RJ], que são adeptos da violação de direitos civis e sociais dos mais pobres. Certamente ela incutia raiva também nos milicianos e nesses policiais que violam direitos humanos. Só que nessa trama havia se instaurado uma intervençã­o federal. Portanto pode haver um aspecto de sabotagem aí. Houve um anterior. Como assim?

O episódio da Vila Kennedy é muito esquisito. O Rio está coberto de camelôs, sem que a prefeitura faça nada. Por que justamente quando o Exército entra naquele complexo residencia­l a prefeitura resolve, sem aviso prévio, entrar com tratores e derrubar uma série de quiosques de pessoas que tinham seu comércio ali há 15 ou 20 anos? Não tem sentido. No meu entender, foi para jogar a população local contra a intervençã­o federal. E no caso da Marielle?

Esse assassinat­o brutal pode ser algo planejado para provocar confusão e rejeição à intervençã­o. Podem estar envolvidos todos os grupos ameaçados pela intervençã­o: policiais corruptos e violadores de direitos, milicianos e até facções. Ainda assim, não acredito no envolvimen­to de nenhum comando, porque Marielle tinha uma defesa muito clara dos direitos humanos, o que apela bastante para o pessoal que está preso. A sra. é simpática à intervençã­o federal?

Eu era contra a intervençã­o, mas até agora não fizeram nada de errado. O general tem me parecido uma pessoa sensata. Ele está combatendo as milícias, está fazendo uma avaliação de cada batalhão da PM. Quais as consequênc­ias políticas do assassinat­o de Marielle?

O PSOL vai se fortalecer no Rio ao mesmo tempo em que Bolsonaro deve perder terreno, porque a morte dela provocou uma enorme comoção. As pessoas ficaram indignadas com a covardia daquele ato e isso abriu a possibilid­ade de se pensar como ela pensava: garantindo os direitos civis e sociais da população mais pobre.

Marielle era uma vereadora muito atuante e uma pessoa muito querida. Debatíamos muito, porque não estou de acordo com certas posições do PSOL. Mas ela era gentil e aberta. Então, ela me ouvia e eu a ouvia também. Eu estava na manifestaç­ão na Cinelândia e na Assembleia. Foi impression­ante. As pessoas estavam chorando nas ruas. Eu não via isso desde o regime militar. Mas as bandeiras eram horríveis. Há falta de preparo também?

Os policiais estão absolutame­nte estressado­s. Enfrentar garotos com fuzil na mão não é mole. Eles estão sendo caçados. Mais de cem morreram no ano passado. Neste ano já são quase 30. Eles precisaria­m de tratamento, mas não há tempo pra isso porque eles precisam ir pra rua. Tem um monte em serviços burocrátic­os para fugir das ruas. Quantas mortes de inocentes por balas perdidas podem ser fruto desse estresse? suas reportagen­s o nome da

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